quarta-feira, 31 de março de 2010

Pecado, A doença da Alma

São Tomás de Aquino, na Exposição do Credo, diz que há duas mortes: a primeira é a do corpo, física, quando a alma se separa dele; a segunda, é a da alma, espiritual, quando esta se separa de Deus. A pior é a segunda, e tem como causa o pecado.

O Catecismo da Igreja nos mostra toda a gravidade do pecado:

´Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado, e nada tem conseqüências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro´ (§ 1488).

São palavras fortíssimas que mostram que não há nada pior do que o pecado.

Por outro lado, o Catecismo afirma que ele é uma realidade:

´O pecado está presente na história dos homens: seria inútil tentar ignorá´lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes.´ (CIC, §386)

Deus disse a Santa Catarina de Sena, nos Diálogos:

´O pecado priva o homem de Mim, sumo Bem, ao tirar´lhe a graça´.

São Paulo, numa frase lapidar explica toda a hediondez do pecado e razão de todos os sofrimentos deste mundo:

´O salário do pecado é a morte´ (Rom 6,23).

Tudo o que há de mal na história do homem e do mundo é conseqüência do pecado, que começou com Adão.

´Por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram´ (Rom 5,12).

O Catecismo diz com toda a clareza:

´A morte é conseqüência do pecado. Intérprete autêntico das Sagradas Escrituras e da Tradição, o Magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem´. (CIC,§1008)

O Catecismo ensina que:

´A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado (GS,18), é assim o último inimigo do homem a ser vencido´ (1Cor 15, 26).

Santo Agostinho dizia que:

´É desígnio de Deus que toda alma desregrada seja para si mesma o seu castigo.´

´O homem se faz réu do pecado no mesmo momento em que se decide a cometê´lo.´

Sintetizava tudo dizendo que ´pecar é destruir o próprio ser e caminhar para o nada.´

E dizia de si mesmo nas Confissões:

´Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava´os nas suas criaturas: em mim e nos outros. Por isso precipitava´me na dor, na confusão e no erro.´

Toda a razão de ser da Encarnação do Verbo foi para destruir, na sua carne, a escravidão do pecado.

´Como imperou o pecado na morte, assim também imperou a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo, nosso Senhor´.(Rom 5,21)

O demônio escraviza a humanidade com a corrente do pecado. Jesus veio exatamente para quebrar essa corrente. São João deixa bem claro na sua carta:

´Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados´ (1Jo 3,5). ´Para isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do diabo´ (1 Jo 3,8).

Essa ´obra do diabo´ é exatamente o pecado, que nos separa da intimidade e da comunhão com Deus, e nos rouba a vida bem aventurada.

Com a sua morte e ressurreição triunfante, Jesus nos libertou das cadeias do pecado e, pela sua graça podemos agora viver uma nova vida. É o que São Paulo ensina na carta aos colossences:

´Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus´ (Col 3,1).

Aos romanos ele garante:

´Já não pesa mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte´ (Rom 8,1).

Aos gálatas o Apóstolo diz:

´É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão´ (Gal 5,1).

Santa Catarina de Sena ensina que é tão grande a liberdade que Cristo conquistou para o homem, que nada e ninguém pode tirar´lhe:

´Tão grande é a liberdade humana, de tal modo ficou fortalecida pelo precioso sangue de Cristo, que demônio ou criatura alguma pode obrigar alguém à menor culpa, contra o seu parecer. Acabou´se a escravidão, o homem ficou livre´.

A vitória contra o pecado custou a vida do Cordeiro de Deus.

São João Batista, o Precursor, aquele que foi encarregado por Deus para apresentar ao mundo o Seu Filho, podia fazê´lo de muitas formas: ´Ele é o Filho de Deus´, ou, ´Ele é o esperado das nações´, como diziam; ou ainda: ´Ele é o Santo de Israel´, ou quem sabe: ´Eis aqui o mais belo dos filhos dos homens´, etc.; mas ao invés de usar essas expressões que designavam o Messias que haveria de vir, João preferiu dizer:

´Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo´ (Jo 1,29).

Aqueles que querem dar outro sentido à vida de Jesus, que não o Daquele que ´tira o pecado do mundo´, esvaziam a sua Pessoa , a sua missão e a missão da Igreja. A partir daí a fé é esvaziada, e toda a ´sã doutrina´ (1Tm4,6) é pervertida. Eis o perigo da ´teologia da libertação´, que exigiu a intervenção direta da Santa Sé e do próprio Papa João Paulo II, pois, na sua essência, esta ´teologia´ substitui o Cristo Redentor do pecado, por um Cristo apenas libertador dos males sociais e terrenos, reinterpreta o Evangelho e o Cristianismo dentro de uma exegese e de uma hermenêutica que não é aceita pelo Magistério da Igreja.

Os judeus não reconheceram Jesus como o Cristo de Deus, exatamente porque esperavam um Messias libertador político. Quando Jesus se apresentou como ´Aquele que tira o pecado do mundo´, com o sacrifício de si mesmo, se escandalizaram e o pregaram na cruz como um farsante.

Assim como a missão de Cristo foi libertar o homem do pecado, a missão da Igreja, que é o seu Corpo místico, a sua continuação na história, é também a de libertar a humanidade do pecado e levá´la à santificação. Fora disso a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor.

Jesus, quer dizer, em hebraico, ´Deus salva´. Salva dos pecados e da morte. Na Anunciação o Anjo disse a Maria: ´... lhe porás o nome de Jesus´. (Lc 1, 31)

A José, o mesmo Anjo disse:

´Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados´. (Mt 1, 21)

A salvação se dá pelo perdão dos pecados; e já que ´só Deus pode perdoar os pecados´ (Mc 2, 7), Ele enviou o Seu Filho para salvar o seu povo dos seus pecados.

´Foi Ele que nos amou e enviou´nos seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados´ (1Jo 4,10).

´Este apareceu para tirar os pecados ´ (1Jo 3,5).

O Catecismo da Igreja lembra que ´foram os pecadores como tais os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o divino Redentor´. (CIC, § 598)

Jesus é o Servo de Javé sofredor, que se deixa levar silencioso ao matadouro como se fosse uma ovelha muda (Is 53,7; Jr 11,19), e carrega os pecados das multidões (Is 53, 12), e toda sua vida se resumiu em ´servir e dar a sua vida em resgate de muitos´ (Mc 10,45).

´Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados.´ (Mt 26,28)

A primeira coisa que Jesus fez no dia da sua ressurreição, foi enviar os Apóstolos para perdoar os pecados.

´Como o Pai me enviou, eu vos envio a vós... Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser´lhes´ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes ser´lhes´ão retidos´ (Jo 20, 22´23).

Isto mostra que a grande missão de Jesus era, de fato, ´tirar o pecado do mundo´, e Ele não teve dúvida de chegar até a morte trágica para isto. Agora, vivo e ressuscitado, vencedor do pecado e da mote, através do ministério da Igreja, dá o perdão a todos os homens.

Como é grande e precioso o Sacramento da Confissão, chamado de Reconciliação! Pela absolvição do sacerdote, ministro do Senhor, recebemos o Seu próprio perdão, conquistado na obediência da cruz.

Santo Agostinho tinha uma boa comparação para explicar a necessidade da confissão frequente:

´A neve recém caída derrete com facilidade. Mas se o sol não a atinge endurece. E, acumulando´se ano após ano, resistindo às investidas do clima, torna´se uma grande geleira, uma montanha de gelo.

Algo parecido ocorre com os pequenos pecados. Fáceis de eliminar no princípio, acumulados vão endurecendo pouco a pouco e, conservados por muito tempo longe da ação corretiva da graça, tornam´se quase incorrigíveis.´

Santa Catarina de Sena, ensina´nos que:

´Ao revoltar´se contra Deus o homem criou a rebelião dentro de si. Em conseqüência da perda do estado de inocência, a carne se rebelou contra o espírito´.

Embora o Batismo elimine o pecado original, as suas seqüelas continuam em nós: os sofrimentos, a doença, a morte, a propensão ao pecado (concupiscência ´ ´fomes peccati´). O Concílio de Trento, o mais longo da história da Igreja (1545´1563), ensina´nos que:

´Deixada para os nossos combates, a concupiscência não é capaz de prejudicar aqueles que, não consentindo nela, resistem com coragem pela graça de Cristo.´ Mais ainda: ´aquele que tiver combatido segundo as regras será coroado (2Tm 2,5)´ (CIC § 405,1264).

Santo Agostinho entendia que a permanência, da concupiscência em nós, mesmo após o Batismo, é uma oportunidade que temos de provar a Deus o nosso amor, lutando contra o pecado, por amor ao Senhor. Ele dizia que aquele que deixa o pecado por medo do castigo, e não por amor a Deus, acaba voltando a ele. É sobretudo, no rompimento radical com o pecado que damos a Deus a prova real do nosso amor filial.

Jesus disse aos apóstolos na última Ceia:

´Se me amais, guardareis os meus mandamentos´ (Jo 14,15).

Guardar os mandamentos é a prova do amor para com Jesus. Quem obedece aos seus mandamentos, foge do pecado.

O grande São Basílio Magno (329´379), bispo e doutor da Igreja, ensina em seus escritos que há três formas de amar a Deus: a primeira é como o mercenário, que espera a retribuição; a segunda, é como escravo que obedece por medo do chicote, o castigo de Deus; e o terceiro é o amor filial, daquele que obedece porque de fato ama o Pai. É assim que devemos amar a Deus; e, a melhor forma de amá´lo é repudiando todo pecado.

Jesus retomou os Dez Mandamentos que há mil anos antes Deus já tinha dado a Moisés, e levou´os à plenitude no Sermão da Montanha. Quando aquele jovem perguntou´lhe: ´Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?´ (Mt 19,16), Jesus respondeu dizendo:

´Se queres entrar na vida guarda os mandamentos´; e fez questão de citá´los: ´não matarás, não adulterás, não roubarás, não levantarás falso testemunho, honra pai e mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo´ (Dt 5,16,20; Lv 19,18).

Os Dez Mandamentos são a salvaguarda contra o pecado. Por isso o primeiro compromisso de quem almeja a santidade deve ser o compromisso de viver, na íntegra, os Mandamentos.

Santo Agostinho dizia que essas são as duas asas que Deus nos deu para voar alto e chegar aos céus: o amor a Deus e o amor ao próximo.

Os Mandamentos nos ajudam a compreender e a viver este amor a Deus e aos irmãos, que nos levam à santidade e ao rompimento com a desordem, como Santo Agostinho chamava o pecado.

Se ainda pecamos, se ainda não somos santos, é porque ainda o amor a Deus e ao próximo não atingiu a sua plenitude em nós; pois, a santidade é uma história de amor.

Para compreendermos toda a hediondez do pecado, toda a sua feiura e maldade, temos que contemplar cuidadosamente Jesus crucificado. Este foi o preço que Ele pagou para tirar o pecado do mundo. Somente contemplando demoradamente as chagas do nosso divino Redentor, a sua coroa de espinhos, os seus açoites, os seus cravos, as suas feridas... é que poderemos ter em conta toda a tristeza que o pecado representa.

Diante da gravidade do pecado, o autor da Carta aos Hebreus chega a dizer aos cristãos:

´Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado´ ( Hb 12,4).

Nesta luta, justifica´se chegar até ao sangue, se for preciso, como Jesus o fez.

A Igreja, iluminada pela luz do Espírito Santo, seu Guia infalível, com sua experiência bi´milenar, nos ensina que os piores pecados são aqueles que ela chama de ´capitais´. Capital vem do latim ´caput´, que quer dizer cabeça. São pecados ´cabeças´, isto é, que geram muitos outros.

Assim como, por exemplo, a capital de um estado ou de um país, é de onde procedem as ordens, as decisões e comandos, assim também, desses pecados ´cabeças´, nascem muitos outros. Por isso, eles sempre mereceram, por parte da Igreja, uma atenção especial. São sete: soberba, ganância, impureza, gula, ira, inveja e preguiça.

Houve um santo que disse que, se a cada ano vencêssemos um desses sete, ao fim de sete anos, estaríamos santos. Portanto, vale a pena refletir sobre eles, a fim de rejeitá´los, com o auxílio da graça de Deus e de nossa vontade.

Santa Catarina de Sena aconselhava a ´entrar na cela do auto´conhecimento´ para conhecermos a nossa miséria e a grandeza de Deus. Assim nos tornaremos humildes.

Nesta reflexão queremos analisar´nos, sob a experiência da Igreja e da Palavra de Deus, a fim de lutarmos, com o auxílio da graça, contra essas ervas daninhas que querem tomar a nossa alma.

Um sábio provérbio chinês garante que ´não é a erva daninha que mata a planta, mas a preguiça do agricultor´.

Sem preguiça espiritual, qual bom jardineiro de Deus, comecemos a limpar o jardim da nossa alma.

Mas esta limpeza não deve provocar em nós remorso, e sim arrependimento. O remorso gera na pessoa a angústia e o desespero; não é o que Deus quer. Ele deseja o arrependimento e o propósito de mudança.

Judas e Pedro pecaram gravemente; o primeiro abrigou na alma o remorso e se matou; o segundo, pela graça de Deus (´Simão, eu orei por ti´´ Lc22,31), arrependeu´se amargamente e chorou copiosamente. Foi perdoado por Jesus, e continuou sendo o escolhido para ser o primeiro chefe da Igreja do Senhor.

O QUE É O PECADO?

Antes de nos determos na análise dos pecados capitais, conheçamos um pouco daquilo que a Igreja nos ensina sobre a natureza do pecado.

O grande Agostinho de Hipona dizia que ´o mal consiste em abusar do bem´, e ainda:

´O pecado é o motivo da tua tristeza. Deixa a santidade ser o motivo da tua alegria.´

O Catecismo começa dizendo que:

´O pecado é uma falta contra a razão, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro, para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens´. (CIC, §1849)

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, viam´no como uma ´desordem´, e diziam que é ´uma palavra, um ato ou um desejo contra a lei eterna´. (Faust. 22; S.Th.1´2, 71,6)

Ainda para Santo Agostinho ele é fruto do ´amor de si mesmo até o desprezo de Deus´. (Civita Dei 14,21)

Jesus ensina que a raiz do pecado está no coração do homem:

´Com efeito, é do coração que procedem más inclinações, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São estas coisas que tornam o homem impuro´. (Mt 15, 19´20)

Segundo a sua gravidade, a Igreja classifica os pecados em veniais e mortais, seguindo a sua própria Tradição.

O pecado mortal leva o pecador a perder o ´estado de graça´, isto é, a ´graça santificante´. O Catecismo afirma que:

´Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso.´ (§1861)

O Catecismo ainda ensina que ´o pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus, desvia o homem de Deus, que é seu fim último e bem aventurança, preferindo um bem inferior.´

São Tomás de Aquino assim explica:

´Quando a vontade se volta para uma coisa de per si contrária à caridade pela qual estamos ordenados ao fim último, há no pecado, pelo seu próprio objeto, matéria para ser mortal... quer seja contra o amor a Deus, como a blasfêmia, o perjúrio, etc., ou contra o amor ao próximo, como o homicídio, o adultério, etc. Por outro lado, quando a vontade do pecador se dirige às vezes a um objeto que contém em si uma desordem, mas não é contrário ao amor a Deus, e ao próximo, como por exemplo palavra ociosa... tais pecados são veniais´. (S. Th. 1,2, 88,2; CIC §1856)

É bom notar que para haver o pecado mortal é preciso que a pessoa queira deliberadamente, isto é, sabendo e querendo, uma coisa gravemente contrária à lei de Deus e ao fim último do homem.

Portanto, para que haja pecado mortal deve haver pleno conhecimento e consentimento; e quem peca deve saber e deve ter consciência do caráter pecaminoso do ato a praticar, e de sua ofensa à Lei de Deus.

A ignorância involuntária, isto é, aquela que a pessoa não tem culpa, pode diminuir ou até eliminar a culpa diante de uma falta mesmo grave, mas é bom lembrar que Deus imprimiu nas consciências dos homens, a Lei natural, isto é, os princípios da moral. (cf. CIC §1860). A Igreja reconhece que os movimentos da sensibilidade da pessoa, bem como o mecanismo das paixões, as pressões exteriores, as perturbações patológicas, etc., em certos casos, podem , diminuir o caráter voluntário e livre do pecado cometido, e conseqüentemente a sua culpa. (cf. CIC §1860)

O Catecismo lembra que:

´O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é o mais grave´. (§ 1860)

Acontece a malícia quando há uma intenção maldosa, uma ´exploração do mal´, por sagacidade, sátira, comércio, etc. É diferente o pecado daquele que sucumbiu por fraqueza, daquele que explorou o pecado. Por exemplo, é muito mais grave explorar a prostituição do que cair nela, eventualmente, por fraqueza, embora ambas as quedas sejam graves.

´É pecado mortal todo pecado que tem como objeto uma matéria grave, e que é cometido com plena consciência e deliberadamente´. (§1857; RP, 17)

´A matéria grave é precisada pelos dez mandamentos segundo a resposta de Jesus ao jovem rico: ‘Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes ninguém, honra teu pai e tua mãe’. (Mc 10,19)´ (CIC§ 1858)

Portanto, a gravidade dos pecados pode ser maior ou menor conforme o dano provocado pelo mesmo. Também a qualidade da pessoa ofendida entra em consideração. Ofender ao pai é mais grave que ofender um estranho.

Santo Afonso de Ligório, doutor da Moral, diz que o ´pecado mortal é um monstro tão horrível, que não pode entrar numa alma que por longo tempo o destestou, sem se fazer claramente conhecido.´

Dizia ainda o santo doutor que o pecado mortal é aquele que se comete de ´olhos abertos´; isto é, sem dúvidas do mal que se está praticando.

O pecado venial acontece quando não se observa a lei moral em matéria leve, ou então quando se desobedece à lei moral em matéria grave, sem perfeito conhecimento ou consentimento (cf. CIC §1862). Não nos torna contrários à vontade de Deus e à sua amizade; não quebra a comunhão com Ele, e portanto, não priva da graça de Deus e do céu.

Contudo, não se deve descuidar dos pecados veniais, pois, eles enfraquecem a caridade, impede a alma de crescer na virtude, e, quando é aceito deliberadamente e fica sem arrependimento, leva a pessoa, pouco a pouco, ao pecado mortal.

Santo Agostinho lembra que ´o acúmulo dos pequenos vícios traz consigo a desesperança da conversão´.

´O homem não pode enquanto está na carne, evitar todos os pecados, pelo menos os pecados leves. Mas esses pecados que chamamos leves, não os consideres insignificantes: se os consideras insignificantes ao pesá´los, treme ao contá´los. Um grande número de objetos leves faz uma grande massa; um grande número de gotas enche um rio; um grande número de grãos faz um montão. Qual é então a nossa esperança? Antes de tudo a confissão...´ (Ep. Jo 1,6; CIC §1863)

Muitos perguntam o que é o pecado contra o Espírito Santo. A Igreja ensina que é o daquele que rejeita livremente acolher, pelo arrependimento, a misericórdia de Deus, ´rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo´. É o endurecimento do coração, a tal ponto, que leva a pessoa a rejeitar até a penitência final. Se morrer neste triste estado, experimentará a perdição eterna. (cf. CIC §1864)

O pecado gera na pessoa uma tendência ao próprio pecado. Podemos dizer que quanto mais se peca, mais se está predisposto ao pecado. A repetição torna´se vício. E assim, nasce na pessoa a inclinação à perversão, obscurece´se a consciência, e vai se perdendo o discernimento entre o bem e o mal. Não foi sem razão que o Papa Paulo VI disse certa vez que, o pior pecado deste mundo é achar que o pecado não existe. A prática do pecado, continuamente, faz com que a pessoa perca a noção da sua gravidade. No entanto, por pior que seja, o pecado não consegue, de todo, ´destruir o senso moral até a raiz´. (CIC §1864)

Diante de nossos pecados, não adianta se desesperar ou desanimar; a única atitude correta é enfrentá´los com boa disposição interior e com a graça de Deus. São Francisco de Sales, bispo e doutor da Igreja, dizia que não adianta ficar ´pisando a própria alma´, depois de ter caído no pecado.

Até mesmo os nossos pecados, aceitos com humildade, podem nos ajudar a crescer espiritualmente. Santo Afonso de Ligório dizia:

´Mesmo os pecados cometidos podem concorrer para a nossa santificação na medida que a sua lembrança nos faz mais humildes, mais agradecidos às graças que Deus nos deu, depois de tantas ofensas´.

DO Livro: PECADOS E VIRTUDES CAPITAIS ´ DO Prof. Felipe de Aquino

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