quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Maria: Mãe da humanidade


Obediência guiada pela fé, inspirada pelo amor

Assume o tom de vigília natalícia a Liturgia do último domingo do advento. Acrescenta Miquéias uma particularidade às profecias messiânicas: indica-nos o lugar de nascimento do Messias em uma aldeia, pátria de Davi, de cuja descendência era esperado o Salvador. "E tu, Belém de Efrata, tão pequena entre as cidades de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel" (Mq 5,1). Na frase que segue "suas origens são antigas, desde os dias mais remotos" (ibidem), pode-se ver uma alusão às origens eternas e, portanto, à divindade do Messias. Tal é a interpretação de S. Mateus, que no seu Evangelho refere esta profecia como resposta dos sumos sacerdotes acerca do lugar de nascimento de Jesus (2,4-6).


Também como Isaías (7,14), fala Miquéias da Mãe do Messias -"dará à luz aquele que deve dar à luz" (Mq 5,2) - sem nomear o pai, deixando assim entrever, ao menos indiretamente, seu nascimento extraordinário. Apresenta enfim sua obra: salvará e reunirá "o resto" de Israel, guia-lo-á como pastor "com a força do Senhor", estenderá seu domínio "até aos confins da terra" e trará a paz (ibidem, 2.3). É esboçada pela profecia de Miquéias a figura de Jesus, nascido humilde e desconhecido em Belém, contudo Filho de Deus, vindo a remir o "resto de Israel" e trazer salvação e paz a todos os homens.


A este quadro segue um outro mais interior - apresentado por S. Paulo - que põe em relevo as disposições do Filho de Deus no momento da sua encarnação: "Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade" (Hb 10,7). Não foram os antigos sacrifícios suficientes para expiar os pecados dos homens nem para prestar a Deus um culto digno dele. Então se oferece o Filho: assume o corpo que o Pai lhe preparou, nesse corpo nasce e vive no tempo, como vítima oferecida em sacrifício ininterrupto, que será consumado na Cruz. Único sacrifício agradável a Deus, capaz de redimir os homens e vindo a abolir todos os outros sacrifícios. "Eis que venho": a obediência à vontade do Pai é o motivo profundo de toda a vida de Cristo, de Belém ao Gólgota e à Ressurreição. O Natal já está na linha da Páscoa; um e outra formam apenas dois momentos de um único holocausto dirigido à glória de Deus e à salvação da humanidade.


O "eis que venho" do Filho tem o mais perfeito eco no "eis aqui a serva do Senhor", da Mãe. Também a vida de Maria é contínua oferta à vontade do Pai, realizada numa obediência guiada pela fé e inspirada pelo amor... "Por sua fé e obediência gera, na terra, o próprio Filho do Pai" (LG 63); por sua fé e obediência, logo após a mensagem do Anjo parte depressa para oferecer à prima Isabel seus préstimos de "escrava" dos homens, não menos que de Deus. E eis o grande serviço de Maria à humanidade: levar-lhe Cristo como o levou a Isabel.


Por meio da Vlrgem-Mãe, de fato, visita o Salvador a casa de Zacarias e enche-a do Espírito Santo, de tal modo que descobre Isabel o mistério cumprido em Maria, e João exulta no seio da mãe. Tudo isto aconteceu porque Maria acreditou na palavra de Deus e, crendo, ofereceu-se à vontade divina: "Bem-aventurada aquela que acreditou" (Lc 1,45). O exemplo de Maria ensina como pode uma simples criatura associar-se ao mistério de Cristo elevar Cristo ao mundo, mediante um "sim" continuamente repetido na fé e vivido na obediência amorosa à vontade de Deus

domingo, 2 de janeiro de 2011

A Verdadeira Historia da IGreja Universal

A Igreja Universal do Reino de Deus


Dentre as comunidades protestantes pentecostais, a que mais se propaga atualmente é a chamada Igreja Universal do Reino de Deus", fundada no Brasil em 1977 por Edir Macedo Bezerra.

1. Traços biográficos

Edir Macedo Bezerra nasceu no Estado do Rio de Janeiro. Quis ser professor; todavia, abandonou seu curso universitário sem o concluir, pois era uma pessoa deprimida. Procurou alivio na Igreja Católica, mas não se satisfez. Passou então para o espiritismo e freqüentou terreiros de macumba, mas também aí não encontrou as respostas desejadas. Fez- se então membro da Igreja Pentecostal Nova Vida, onde permaneceu até 1974. Deixou-a para pregar; por conta própria, a cura mediante a fé. Em1974, junto com Roberto Augusto Alves, Romildo Soares (seu cunhado) e os irmãos Samuel e Fidelis Coutinho, fundou a Igreja Cruzada do Caminho Eterno. Em 1977 se desentendeu­ com os irmãos Coutinho e, ao lado do cunhado e de Roberto Augusto, inaugurou a Igreja Universal do Reino de Deus na Abolição (zona norte do Rio de Janeiro).

Quatro anos após a fundação, Edir outorgou o título de "bispo" a si próprio e a Roberto Augusto. "Esse negócio de bispo é só um título para envolver os católicos", terá dito Edir Macedo, segundo o depoimento de Roberto Augusto ao Jornal da Tarde de 2/4/1994, pág. 16.

O próprio Roberto Augusto, que "sagrou" Edir como bispo, separou-se de Macedo e retornou à Igreja da Nova Vida; algo de semelhante fizeram vários companheiros de Edir Macedo - entre os quais o famoso pastor Carlos Magno de Miranda, que se retirou para fundar a sua Igreja, dita "do Espírito Santo de Deus". Romildo Soares, cunhado de Edir, afastou-se para constituir sua Igreja, dita "Igreja da Graça". Na verdade, a colaboração com Edir se tornou difícil por causa da prepotência deste líder e eu) virtude do espírito mercantilista que cada vez mais foi prevalecendo em suas atividades.

Feito "bispo" monárquico, Edir criou para si um vasto império. Como pregador do Evangelho e arauto de curas, foi adquirindo vários meios de comunicação e outros bens materiais no Brasil e no exterior.

2. O culto praticado na Igreja Universal

O culto exercido nas sessões da Igreja Universal do Reino de Deus é predominantemente o de atendimento às pessoas que lá compareçam, afetadas por algum problema físico, psíquico, familiar, econômico... Os pastores desta Igreja atribuem o surto desses problemas à intervenção do demônio (não raro confundido com a pomba-gira ou algum exu da Umbanda); consequentemente, aplicam exorcismos - o que se faz em meio a gritos, lágrimas, gemidos, convulsões, pancadas, aclamações, palmas, etc...

Edir Macedo tem o dinheiro cru grande estima: "O dinheiro é uma ferramenta sagrada que Deus usa na sua obra" (Jornal da Tarde, 6/4/1991, pág. 14) - daí a insistência no pagamento do dízimo. Há diversos modos de estimular os fiéis à entrega de dinheiro; exemplificando: são distribuídos envelopes aos crentes, aos quais é dado um prazo fixo para que os devolvam com um fio de cabelo para ser benzido e a contribuição monetária; são também motivo para arrecadar donativos os cultos considerados especiais, que requerem unção com azeite, correntes de libertação, de prosperidade, de Gedeão, do amor.

3. Uma reflexão


Verifica-se que o grande interesse da Igreja Universal e de denomina­ções congêneres é o serviço ao homem. Assim, faz-se da religião um sistema mágico de solução dos mais diversos problemas do indivíduo; cria-se uni novo tipo de 'pronto-socorro': o religioso, o qual pode realizar aparentes prodígios mediante a sugestão movida por temas religiosos (sempre muito penetrantes). O culto a Deus em adoração e louvor se torna secundário quando ocorre, é em função de pretensas curas e façanhas "portentosas".

Ora, religião é, antes do mais, ligação do homem com Deus; tem por objetivo primeiro adorar e glorificar a Deus, porque Ele é santo e infinitamen­te sábio e bom, independentemente deste ou daquele efeito extraordinário. É o que o Pai-Nosso ensina, propondo em suas três primeiras petições um olhar para Deus Pai; depois é que vêm as petições relativas ao homem, enquanto filho de Deus, tendente à Casa do Pai através das estradas desta vida. A religião há de ser teocêntrica, e não antropocêntrica.

Professor Felipe Aquino

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Bebidas alcoólicas e festas de Igreja - EB

D. Estevão Bettencourt, Osb

Nº 531, Ano 2006, p. 429




Em síntese: Como bispo de Joinville, D. Orlando Brandes condena o uso de bebidas alcoólicas nas festas de igreja. Firma sua posição sobre doze itens que manifestam a inconveniência de fomentar o alcoolismo.

Como bispo de Joinville (SC), D. Orlando Brandes (hoje Arcebispo de Londrina, PR) escreveu uma Carta aos seus diocesanos pela qual condena o uso de bebidas alcoólicas nas festas da igreja. O texto chegou a PR via Internet. Dado o alto valor desse documento, transcrevemo-lo a seguir.

O USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS NAS FESTAS DE IGREJA

O alcoolismo é uma doença. É a primeira e a mais consumida de todas as drogas. É alarmante o índice de jovens, mulheres e adultos dependentes do álcool. Mortes no trânsito, violência familiar, infidelidade conjugal e doenças derivantes do álcool, são conseqüências negativas do hábito ou da dependência de bebidas alcoólicas. Grande parte do setor de ortopedia dos hospitais, é ocupada por acidentados alcoolizados. Os gastos públicos são astronômicos, e poderiam ser evitados se houvesse mais conscientização.

As escolas e estádios proibiram o uso de álcool em suas festas. A CNBB promoveu e apoiou a Pastoral da Sobriedade e coordenou a Campanha da Fraternidade "Vida Sim, Drogas Não". No texto-base está dito pela CNBB: "A pior das drogas é o alcoolismo". Não podemos em nossas festas lucrar com dinheiro da pior das drogas e com festas mundanas, eu levam o nome de "festa de Igreja".

Depois de três anos de conscientização, através de reuniões, assembléias pastorais, conselhos de pastoral e o aval do clero, A Assembléia Diocesana de Pastoral votou unanimemente em favor das festas sem álcool. Doze razões foram elencadas em carta enviada às comunidades para aprofundamento da questão. Eis os doze pontos:

1. O alcoolismo é uma doença. Nós somos pela defesa da vida, da saúde e da boa convivência humana. O quinto mandamento da lei de Deus manda: "Não matarás". O álcool mata o alcoólatra e muitas vezes ele mata os irmãos em casa, nas festas, no trânsito e nas brigas.

2. O alcoolismo já está atingindo a juventude, as mulheres e também pessoas da Igreja. Não podemos continuar dando mau exemplo em nossas Igrejas e colaborar com o prejuízo das pessoas.

3) Temos na CNBB e nas Dioceses a Pastoral da Sobriedade. Na diocese de Joinville, temos a Pastoral Antialcoólica. Permitir bebidas nas festas é um contra-testemunho e uma contradição com estas Pastorais.

4) Não somos contra festas. Pelo contrário; o que queremos é que nossas festas sejam verdadeiramente religiosas, sadias, agradáveis, num espírito de família e de boa convivência. Nos lugares onde foram tiradas as bebidas alcoólicas, as festas melhoraram em tudo.

5) Para tirar as bebidas alcoólicas, é preciso implantar bem o dízimo nas comunidades. Onde o Dízimo é bem organizado, melhorou em muito o lado econômico da comunidade e pode-se então abolir as bebidas alcoólicas das festas sem prejuízo financeiro. O segredo está na boa implantação da Pastoral do Dízimo.

6) As festas com bebidas alcoólicas, mais a contratação de músicos, cantores e conjuntos musicais, acabam sendo muito dispendiosas. E a maior parte do lucro não fica na comunidade. Não podemos mais continuar apoiando coisas do mundo, nas festas religiosas. "Detesto vossas festas, tornaram-se uma carga que não suporto mais" (Is 1, 14).

7) O povo e a comunidade, aprovam a abolição das bebidas alcoólicas em nossas festas. Quem ainda quer fazer festa com bebidas alcoólicas são as lideranças mais antigas, que não conhecem as novas experiências, de festas sem álcool. Algumas vezes pessoas da Igreja também não estão ainda bem convencidas no assunto. Geralmente quem bebe, são pessoas que não freqüentam a comunidade. Elas aparecem nas festas, depois não participam da comunidade.

8) As Paróquias e comunidades que já tiraram as bebidas alcoólicas de suas festas, começaram primeiro conscientizando a comunidade, e paralelamente implantaram a Pastoral do Dízimo. Algumas fizeram uma votação, ou melhor, um plebiscito. Tudo deu certo. O povo está feliz, e as finanças aumentaram, sem as bebidas alcoólicas nas festas.

9. Tirando as bebidas alcoólicas, estamos dando bom exemplo para outras religiões, colaborando com a saúde pública, sendo coerentes com nossa fé e nossas Pastorais.

10. Após alguns anos de conscientização, a Assembleia Diocesana de Pastoral, em 2005 votou pela abolição de bebidas alcoólicas em festas de Igreja. Padres e lideranças, devem dar oportunidade de conscientização da comunidade sobre este assunto.

11. "Não vos embriagueis, mas enchei-vos do Espírito" (Ef 5, 18). A experiência tem mostrado que suco de uva e outras bebidas substituem as bebidas alcoólicas. Para maior clareza, decidimos que, se alguém aluga salões da Igreja para casamentos e outros encontros, consideramos que tais festas não são promoção da Igreja e por isso o uso de bebidas alcoólicas é da responsabilidade dos encarregados da festa.

12. Percebemos também que nas comunidades onde o pároco assume a responsabilidade de tirar as bebidas alcoólicas, o povo aceita e as lideranças se rendem. Onde o Padre fica neutro ou é contra, é quase impossível a mudança do hábito.


CNBB

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Por que se expõe Jesus na Eucaristia?


Somente em Jesus Cristo, presente entre nós, pode haver salvação

O culto da exposição, ousamos afirmar, é a necessidade de nossa época; impõe-se esse testemunho público e solene da fé dos povos na divindade de Jesus Cristo e na veracidade de Sua presença sacramental. É a melhor refutação que se pode fazer aos renegados, aos apóstatas, aos ímpios e aos indiferentes, refutação que cairá sobre eles qual montanha de fogo do amor e da bondade.



O culto da exposição é necessário para salvar a sociedade, que morre por não ter mais um centro de verdade nem de caridade, tampouco de vida de família. Cada membro se isola, se concentra, procura bastar a si mesmo; a dissolução é iminente.

A sociedade renascerá, entretanto, cheia de vigor, quando todos os seus membros vierem se reunir em torno de nosso Emanuel (cf. Mt 1,23). É mister refluir à fonte da vida, a Jesus na Eucaristia, fazê-Lo sair de Sua reclusão, a fim de que se coloque novamente à frente das sociedades cristãs, para dirigi-las e salvá-las; é mister reconstruir-Lhe um palácio, um trono real, uma coorte de servos fiéis, uma família de amigos, uma multidão de adoradores.

O culto da exposição é necessário para despertar a fé adormecida em tantos homens de caráter que não conhecem mais Jesus Cristo, porque se esqueceram de que Ele mora na vizinhança, de que é amigo e Deus deles. Esse culto é necessário para estimular a verdadeira piedade, retida desde muito na porta do santuário onde Jesus está sempre disposto a nos abençoar e nos abrir Seu Coração.



O grande mal de nossa época é não dirigirem a alma a Jesus Cristo como a seu Deus e Salvador. Despreza-se o único fundamento, a lei única, a graça única de salvação.

O mal da piedade estéril é que ela não parte de Jesus Cristo e não converge para Ele. A alma se detém no caminho, distrai-se com uma flor… O amor divino não tem sua vida, seu centro, no Sacramento da Eucaristia, e, portanto, não está em suas verdadeiras condições de expansão. Somente em Jesus Cristo, presente entre nós, pode haver salvação. O mal é tão grande que somente Ele é capaz de nos salvar. É a batalha decisiva. Um santo, um anjo, um taumaturgo, um gênio, um grande orador, tudo isso é ineficaz.

É necessário Jesus Cristo em Pessoa: eis o Santíssimo Sacramento, Seu combate e Seu triunfo.

Padre Luizinho
Comunidade Canção Nova

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ORAÇÃO EM LÍNGUAS

"Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito."
I Cor 14,2

Muitas pessoas, ao participar pela primeira vez de um grupo de oração, e até mesmo pessoas com algum tempo de caminhada na Igreja, se perguntam sobre a necessidade da oração e do louvor em línguas.
De fato, com a Renovação Carismática se expandindo, a oração em línguas se tornou mais conhecida entre os fiéis da Igreja. Mas, o que é realmente a oração em línguas?
Ao lermos At 2,3-13 (a vinda do Espírito Santo), percebemos como o Espírito Santo se fez presente em Pentecostes, e como houve a primeira grande manifestação da oração em línguas. Guiados pelo Espírito Santo, os apóstolos que estavam reunidos no Cenáculo com Maria, começaram a falar em outras línguas, conforme Espírito Santo lhes concedia que falassem.
Nessa leitura dos Atos dos Apóstolos percebemos o primeiro entendimento a respeito da oração em línguas: oração em uma língua diferente não estudada por aquele que pronuncia, porém entendida.
Mas, a oração em línguas como conhecemos é mais que isso, é a forma de chegarmos a Deus por meio das nossas palavras. Quanto nos faltam palavras em nossa língua para nos comunicarmos com Deus, o Espírito Santo nos inspira palavras novas, uma nova língua, com a qual podemos louvar e bendizer a Deus.
Em Coríntios 12,10, encontramos o segundo entendimento a respeito da oração em línguas, diferente daquele encontrado nos atos dos apóstolos: Não se trata de falar com os homens, mas de falar com Deus. É um modo de oração, na qual aquele que reza em línguas "edifica a si mesmo"(cf. I Cor 14, 4).
Na Igreja de Corinto, esse dom era comum. Todos estavam familiarizados com ele. Por isso, Paulo não se detém na sua descrição ou explicação como se tratasse de algo novo ou desconhecido para seus leitores. Paulo limita-se a disciplinar o uso desse dom na assembléia corintiana. Daí a dificuldade que temos hoje para entendê-lo.
"O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis" (Rm 8,26).
O dom das línguas não consiste na emissão de simples gemidos ou suspiros inarticulados. É um discurso humano que tem a aparência de uma língua incompreensível tanto para o que fala como para os que o escutam.
É uma forma de oração particular. Não se destina ao culto público, mas à devoção privada. Não consiste em falar verdadeiras línguas estrangeiras. Não se produz em êxtase, no qual se perde o controle racional dos atos.
"Aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o compreende: movido pela inspiração enuncia coisas misteriosas" (1 Cor 14,2).
Podemos perceber que o dom de línguas é plenamente uma inspiração dada pelo Espírito Santo. É uma forma de chegarmos a Deus, pois para orarmos e louvarmos em línguas é preciso que estejamos abertos a ação do Espírito Santo.
Enfim, a oração em línguas é o cumprimento da palavra: "falarão novas línguas" (Mc 16,17b), que o próprio Senhor Jesus proferiu aos onze discípulos após ressuscitar.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!

As principais linhas doutrinárias do Protestantismo

Em síntese: O protestantismo se apresenta hoje em dia sob centenas de modalidades, muitas vezes divergentes entre si. Todavia repousa sobre linhas básicas, devidas aos respectivos fundadores no século XVI: Lutero, Calvino, Melanchton, Knox... Essas linhas são: 1) a justificação pela fé sem as obras; 2) a Bíblia como única fonte de fé, sujeita ao "livre exame"; 3) a negação de intermediários entre Deus e o crente. Estes princípios serão, a seguir, expostos e avaliados.

O protestantismo representa uma realidade assaz complexa, ou seja, o bloco de aproximadamente 400.000.000 de cristãos que não pertencem nem à Igreja Católica, cujo Pastor visível reside em Roma como sucessor do Apóstolo Pedro, nem às comunidades cristãs orientais (ortodoxa, nestoriana e monofisita), comunidades que se separaram do tronco primordial em etapas sucessivas desde o século V até o século XI.

O iniciador do movimento protestante é Martinho Lutero, que, a partir de 1517, quis reformar o Credo e as instituições cristãs, e por isto se afastou da Igreja dando início ao Luteranismo. Ao lado deste, enumeram-se:

O Calvinismo (que absorveu o Zwinglianismo ou a reforma de Ulrich Zwingli em Zürich, Suíça), movimento afim ao de Lutero, empreendido por Calvino em Genebra, Suíça,

E o Anglicanismo, reforma semelhante oriunda na Inglaterra. Distinguem-se 1) a High Church, Alta Igreja, que conserva muitos elementos do Catolicismo e pretende ser a ponte entre Catolicismo e Protestantismo propriamente dito, e 2) a Low Church, Baixa Igreja, fortemente impregnada de princípios doutrinários do Protestantismo. Os anglicanos mais radicais emigraram para os Estados Unidos onde têm dado origem a novas e novas divisões.

Estas três denominações (Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo) representam o que se pode chamar "Igrejas protestantes tradicionais", todas iniciadas no séc. XVI (os Anglicanos nem sempre aceitam a designação de "protestantes", embora, por seus princípios doutrinários, se filiem ao Protestantismo).

Destes três grandes troncos do Protestantismo derivaram-se centenas de sociedades menores, que por vezes já não recebem o nome de Igrejas, mas o de seitas, visto serem movidas por espírito diverso do das Igrejas; são reformas da reforma, dissidências da dissidência: metodistas, batistas, congregacionais, quakers, Ciência Cristã, Mórmons, Adventistas, Testemunhas de Jeová...

Esses múltiplos grupos protestantes autônomos professam credos diferentes, chegando alguns a negar a própria Divindade de Cristo; o liberalismo doutrinário predomina entre eles. Contudo podem-se enunciar três grandes teses como características dos diversos tipos de Protestantismo: 1) a justificação pela fé sem as obras; 2) a Bíblia como única fonte de fé, interpretada segundo o "livre exame"; 3) a negação de intermediários entre Deus e o crente.

TRÊS PONTOS CAPITAIS

a) A justificação pela fé sem as obras

Lutero considerava esta tese como central dentro da sua Teologia: "artigo do qual nada se poderá subtrair, ainda que o céu e a terra venham a desmoronar" (Artigos de Schmakalde, 1537).

Qual o significado de tal proposição e donde lhe vem a sua importância no Protestantismo?

A resposta não é difícil; deriva-se da situação psicológica em que o reformador se achou em certa fase de sua vida. Lutero fez-se frade agostiniano, mais movido pelo medo (tendo escapado à fulminação por um raio, prometeu entrar no convento) do que por autêntica vocação. No claustro, experimentou a concupiscência, à qual opôs penitência e ascese. Sentindo, porém, continuamente as más tendências em sua natureza, entrou em angustiosa crise: queria libertar-se da concupiscência, mas não o conseguia... Um belo dia julgou ter encontrado a solução: apelando para São Paulo (principalmente para a epístola aos Romanos), começou a ensinar que a concupiscência é realmente invencível; por conseguinte é inútil procurar dominá-la mediante penitência e boas obras. Nem Deus requer isto do homem; basta aceitar Cristo como Salvador, isto é, crer com confiança que Deus Pai, em vista dos méritos de Jesus, não leva em conta os pecados do indivíduo; a fé confiante ("fiducial"), independentemente de boas obras, faz que Deus nos recubra com o manto dos méritos de Cristo, declarando-nos justos. Tal declaração é meramente jurídica ou extrínseca, não afeta o interior da natureza humana; esta, mesmo depois de "justificada", nada pode fazer para obter a salvação eterna, pois se acha como que aniquilada pelo pecado, reduzida à categoria de instrumento inerte nas mãos de Deus ou de serra nas mãos do carpinteiro (assim se formula a famosa tese do "servo arbítrio" de Lutero).

Neste quadro de idéias, vê-se que não se pode falar de cooperação do homem com a graça de Deus, nem de méritos. Lutero e Calvino reconheciam que a caridade nasce da fé, como a maçã provém da macieira, mas (acrescentavam) não são a caridade e suas obras que importam (ou ao menos... que importam em primeiro lugar); o crente pode estar certo da salvação eterna em qualquer fase da sua vida, desde que mantenha a sua fé confiante. Donde o famoso adágio de Lutero: "Pecco fortiter, sed fortius credo. - Peco intensamente, mas ainda mais intensamente creio" (carta a Melanchton, 1s de agosto de 1521); com estas palavras, o reformador não recomendava o pecado, mas queria dizer que a simples confiança no Salvador ainda tem mais peso no processo de salvação do que a culpa do homem. Calvino, do qual muito se inspiraram os presbiterianos e batistas, acentuou ao extremo estas idéias, afirmando que Deus predestina infalivelmente para a salvação eterna, de sorte que, se o homem não perde a sua fé, pode ter certeza de que chegará à bem-aventurança celeste (donde se deriva para o crente um grande reconforto).

b) A Bíblia, única fonte de fé, sujeita ao "livre exame"

A inovadora tese da justificação pela fé fiducial encontrou fundamento numa revisão nas fontes da Revelação cristã. Estas são a Palavra de Deus, que nos vem por dois canais: a Escritura Sagrada e a Tradição oral apregoada pelo magistério da Igreja. Resolveram, pois, rejeitar a Tradição ou o magistério, para só dar crédito à Palavra escrita ou à Bíblia. Esta, para o protestante, tudo contém; é, por si mesma, clara em tudo que concerne à salvação eterna.

Calvino se exprime a respeito em termos muito fortes:

"Quanto à objeção que os católicos nos fazem, perguntando-nos de quem, donde e como temos a convicção de que a Escritura provém de Deus, é semelhante à questão de quem quisesse saber como aprendemos a distinguir a luz das trevas, o branco do negro, o doce do amargo. A Escritura, com efeito, tem seu modo de se manifestar, modo tão notório e seguro que se compara à maneira como as coisas brancas e negras manifestam sua cor e as coisas doces e amargas manifestam o seu sabor" (Institution Chrétienne 17§ 3).

Para ajudar a pessoa a ler e entender a Bíblia, o Espírito Santo dá seu testemunho interior, iluminando a mente e dirigindo o coração. Em conseqüência, cada crente tem o direito de "deduzir" da Bíblia as verdades que ele, em seu bom senso, julgue haverem sido a ele ensinadas pelo Espírito Santo.

Assim o Protestantismo atribui ao indivíduo uma prerrogativa que ele nega à Igreja visível e hierárquica: esta pode errar no seu ensinamento, corrompendo o depósito da fé (apesar das promessas de Cristo, seu Fundador); toca, por conseguinte, a cada cristão, guiado pelo Espírito Santo, encontrar de novo a Palavra de Deus perdida pela Igreja...

A reação do crente protestante contra o magistério eclesiástico é, aliás, típica expressão da mentalidade da Renascença: no séc. XVI o homem criou, sim, uma consciência nova dentro de si, tendente a pôr em xeque qualquer tipo de autoridade, para mais exaltar o indivíduo. "O que rejeito,absolutamente, é a autoridade", escrevia Alexandre Vinet (1797-1847), chefe do movimento dito "da Igreja Livre" na Suíça ocidental calvinista. O Evangelho, para Lutero, devia ser não somente uma escola de obrigações, mas também uma via de libertações (entre as quais, a libertação frente à autoridade religiosa visível).

c) A negação de intermediários entre Deus e o crente

O Protestantismo dá valor decisivo à atitude do indivíduo diante de Deus; segundo a teologia reformada, é a fé subjetiva nos méritos de Cristo que garante a salvação. Em conseqüência, pouca margem aí resta para se conceberem dons de Deus que permaneçam extrínsecos ao indivíduo e a este comuniquem os méritos do Salvador. Em outros termos: não têm cabimento canais transmissores da graça, como sejam ritos e práticas a serem administrados por uma sociedade visível (a Igreja) e por uma hierarquia de ministros oficialmente instituída. Para o protestante, entre o homem justificado pela fé e Deus, não há Sacerdote senão o Senhor Jesus invisível, que está nos céus (a prolongação da Encarnação através da Igreja e dos sacramentos é depreciada): também não há outro Mestre senão o Espírito Santo, que fala nas Escrituras e no íntimo de cada crente, sem se servir de algum magistério visível e objetivo.

Note-se, em particular, a repercussão destas idéias nos conceitos de sacramento e Igreja.

O número dos sacramentos foi notavelmente diminuído pelos doutores do Protestantismo. Dentre os sete tradicionais, Calvino chegou a admitir dois apenas: o Batismo e a Ceia. Quanto à função dos sacramentos, os reformadores nos diriam que estes não são portadores da graça, mas apenas sinais que, lembrando as promessas da benevolência divina, excitam a fé (ou confiança) nessas promessas; estimulada por tais sinais, é a fé que produz a santificação do crente. Os sacramentos portanto não exercem, como se diz em linguagem teológica, causalidade nem física nem moral no processo de santificação; a sua influência fica limitada ao setor psicológico (recordam a palavra de Deus...).

No Calvinismo, torna-se mesmo impossível que a graça esteja associada a algum sinal objetivo, pois ela só é dada aos predestinados; a quem não pertença ao número destes, não adianta recorrer a algum rito sensível. Lutero, um pouco menos inovador neste ponto, afirmava que o Batismo confere a santidade, mas só o faz mediante a fé: "Não o sacramento, mas a fé no sacramento é que justifica. - Non sacramentum, sed fides in sacramento iustificat", escrevia o reformador ao Cardeal Caetano. O Zwinglianismo empalidecia ainda mais o papel dos sacramentos, reduzindo-os a meros testemunhos da fé capazes de unir os homens entre si: pelos sacramentos, ensinava Zwingli, o crente atesta e comprova à Igreja a sua fé, sem que da Igreja receba sequer o selo ou a comprovação da fé.

A prevalência do indivíduo sobre a coletividade se exprime com não menor clareza no conceito protestante de Igreja. Esta, conforme os reformadores, não é um corpo visível, mas sociedade invisível; só uma coisa impede que alguém a ela pertença: o pecado. Quem não se deixa contaminar por este, torna-se membro da igreja, independentemente dos quadros externos nos quais os crentes professam a sua fé. Em geral, dizem os protestantes que a Igreja visível se corrompeu e extinguiu no séc. IV, sob o Imperador Constantino, dada a colaboração do Estado e da Igreja, pois então se introduziram nos mais íntimos redutos do Cristianismo doutrinas e costumes pagãos. Subsiste, porém, a Igreja invisível, a qual continua a vida da comunidade primitiva de Jerusalém. Ora seria essa Igreja invisível que vai tomando corpo nas denominações protestantes a partir do séc. XVI...

Se agora se pergunta como é governada a Igreja invisível, toca-se uma questão árdua para o Protestantismo: este, de um lado, rejeita o Papado e, de outro lado, afirma que todos os fiéis são sacerdotes. Em conseqüência, não restam critérios muito seguros para se constituir o governo da Igreja... Donde a multiplicidade de soluções: há denominações protestantes dirigidas por seus "bispos" (tais são o epíscopalismo anglicano, o metodismo...), bispos, porém, que são mais mentores dos crentes do que sacerdotes ou ministros dos meios de santificação; há-as também dirigidas por presbíteros (o presbiterianismo, por exemplo), e há as dirigidas por meros delegados da coletividade ou da congregação (congregacionalismo, que reproduz o sistema democrático no setor religioso). Vários grupos protestantes não concebem mesmo dificuldade em admitir a autoridade mais ou menos absoluta dos governos civis, no que diz respeito à vida temporal da Igreja (o que resulta em secularização da face visível do Cristianismo).

Expostas sumariamente as três características da teologia protestante, incumbe-nos agora analisar o seu significado.

UMA ESTIMAÇÃO DA DOUTRINA

a) A justificação pela fé sem as obras

Não há dúvida, a Escritura ensina que a remissão dos pecados é gratuitamente outorgada aos homens pelos méritos de Jesus Cristo (cf. Rm 5,8s); o homem não pode merecer o perdão, mas tem que o aceitar contritamente, crendo no amor de Deus e entregando-se humilde a esse amor. Contudo a Escritura ensina outrossim que o perdão concedido por Deus não é mera fórmula jurídica em virtude da qual não nos seria mais levado em conta o pecado, pecado que, apesar de tudo, ficaria inamovível a contaminar a alma. Não; justificação, segundo as Escrituras, é regeneração (cf. Jo 3,3.5; Tt 3,5), elevação à dignidade de filhos de Deus não nominais apenas, mas reais (cf. 1 Jo 3,1), de modo a nos tornarmos consortes da natureza divina (cf. 2Pd 1,4), capazes de produzir atos que imitem a santidade do Pai Celeste (cf. Mt 5,48). Se, por conseguinte, Deus, ao nos perdoar as faltas, nos concede uma nova natureza, está claro, conforme as Escrituras mesmas, que as obras boas que estejam ao alcance desta nova natureza, devem pertencer ao programa de santificação do cristão; elas se tornam condição indispensável para que alguém consiga a vida eterna. Deus não pode deixar de exigir tais obras depois de nos haver concedido o princípio capaz de as produzir.

É óbvio que essas obras boas não constituem o pagamento dado pelo homem em troca da graça de Deus, nem são algo que a criatura efetue independentemente dos méritos de Cristo Salvador, mas são os frutos necessários da ação de Deus (ou da graça) no homem regenerado, são concretizações dos méritos do Salvador; na verdade, é Cristo quem vive no cristão e neste exerce seu influxo vital, como a cabeça nos seus membros e como o tronco da videira nos seus ramos (cf. Gl 2,20; Jo 15,1s).

São Paulo, na epístola dos Romanos, tanto inculca a justificação pela fé sem as obras, porque tem em vista a primeira conversão ou a conversão do pecador a Deus (claro está que esta não pode ser o resultado de obras meritórias prévias). São Tiago, porém, que visa propriamente ao desabrochar da vida cristã após a conversão, inculca fortemente a necessidade das boas obras (por isto a epístola de Tiago muito desagradava a Lutero, que quis negar a sua canonicidade).

Quanto à concupiscência que permanece no cristão por toda a vida, ela não constitui pecado enquanto o indivíduo não lhe dá consentimento; por muito intensa que seja, a graça do Redentor é certamente capaz de triunfar sobre ela. O fato de que a Escritura a chama "pecado" (cf. Rm 7,20), explica-se por estar a concupiscência intimamente ligada ao pecado como conseqüência deste.

De resto, na vida cotidiana os protestantes valorizam altamente as boas obras; falam então linguagem muito semelhante à dos católicos.

A Bíblia e o livre exame

Visto que a S. Escritura teve origem após a pregação oral e como eco da pregação oral dos Profetas e dos Apóstolos, entende-se que a Tradição (transmissão) oral seja necessário critério de interpretação da Bíblia Sagrada. O valor da Tradição se explica pelo fato de que a Revelação oral antecedeu a redação das Escrituras nem foi, por inteiro, consignada nos livros sagrados (os autores sagrados nunca tiveram a intenção de confeccionar um manual completo dos ensinamentos revelados; ver Jo 20,30s; 21,24s); donde se vê quão alheio é ao espírito mesmo da Bíblia interpretá-la independentemente da corrente de doutrinas dentro da qual a Escritura se originou, se conservou e sempre se transmitiu.

Ao que foi dito ainda se pode acrescentar a menção de algumas conseqüências do princípio do livre exame (é pelos frutos que se conhece a árvore!).

Os próprios reformadores e seus discípulos, desejando exaltar a autoridade das Escrituras, tornaram-se deturpadores da Palavra de Deus. Foi, sim, em nome do Antigo Testamento que Lutero permitiu a bigamia a Filipe de Hessen. É em nome das Escrituras que os fundadores de seitas vão ensinando teses fantasistas e contraditórias sobre a data do fim do mundo (tenham-se em vista os Adventistas, as Testemunhas de Jeová, alguns grupos pentecostais). Em nome do livre exame da Bíblia os críticos protestantes têm rejeitado inteiras seções ou até livros escriturísticos; chegam a negar a Divindade de Cristo (o primeiro autor que negou a plena veracidade dos Evangelhos foi o protestante H. S. Reimarusf 1768).

De resto, verifica-se que as comunidades de crentes, tendo abandonado a venerável Tradição transmitida desde os inícios do Cristianismo, ainda, e apesar de tudo, seguem uma tradição,... tradição evidentemente humana, a que deu início tal ou tal fundador de seita. Criou-se em cada denominação de "reformados" uma tradição particular ou uma via própria de interpretação da Bíblia.

É a rejeição de todo magistério munido da autoridade do próprio Deus que gera instabilidade nas comunidades protestantes, ocasionando a criação de novas e novas denominações. A razão destas múltipas reformas não será o fato de que nenhuma delas é realmente guiada pelo Espírito Santo, mas todas são obra meramente humana? Aliás o próprio Lutero já verificava em seus tempos: "Há tantos credos quantas cabeças há".

Alexandre Vinet, já citado, afirmava, por sua vez, no século passado:

"Para mim, o Protestantismo é apenas um ponto de partida; a religião fica muito além dele... A reforma será uma exigência permanente dentro da Igreja; ainda hoje a reforma está por se fazer".

A experiência de 400 anos mostrou que se volta contra os próprios irmãos separados o princípio com que estes quiseram outrora impugnar os católicos: "Mais vale obedecer a Deus do que aos homens" (At 5,29).

A negação de intermediários entre Deus e o crente

Esta posição acarreta, como dizíamos, a negação de várias instituições que se tornaram clássicas no Cristianismo: os sacramentos concebidos como canais da graça, a intercessão dos Santos, o sacerdócio oficial e hierárquico, a visibilidade da Igreja, etc.

Seguem-se três observações aptas a mais evidenciar o erro radical contido no princípio protestante:

a) a rejeição dos sacramentos e do sacerdócio hierárquico contradiz à lei geral que Deus sempre quis observar nas suas relações com o homem: assim como na plenitude dos tempos o Senhor atingiu a criatura mediante o mistério da Encarnação, assim antes e depois desta Ele veio e vem sob sinais sensíveis; principalmente no Novo Testamento a dispensação das graças conserva a estrutura da Encarnação: os sacramentos e sacramentais são matéria consagrada que prolonga e desdobra a estrutura do Verbo Encarnado. Como o corpo de Jesus recebeu outrora a vida divina e a comunicou aos homens seus contemporâneos, assim os elementos corpóreos (água, pão, vinho, óleo, palavras e gestos do homem...) vêm a ser, nos sacramentos, os canais que contêm e transmitem a graça de Deus; não os poderíamos reduzir à categoria de meros estimulantes da memória, vazios de conteúdo sobrenatural, sem quebrar a harmonia do plano da salvação.

b) Nos desígnios de Deus, a santificação do homem sempre foi concebida comunitariamente, em oposição a qualquer individualismo. O Criador houve por bem, no início da história, incluir todos os homens no primeiro Adão; quis outrossim restaurar todos conjuntamente em Cristo; conseqüentemente santifica-nos hoje por meio de uma comunidade, que é a Igreja, caracterizada por sinais objetivos e por um ministério visível, fora do qual ninguém pode pretender encontrar o Cristo. - Exaltando o indivíduo a ponto de relegar para plano secundário a comunidade, o Protestantismo vem a ser autêntico produto da mentalidade subjetivista e antropocêntrica do Renascimento.

c) A Reforma pretende corresponder à Igreja primitiva, anterior à corrupção que "paganizou" o Evangelho... Esta pretensão é tão vã que os mestres protestantes se têm visto obrigados a fazer recuar constantemente o período da "grande corrupção": ao passo que os primeiros reformadores a colocavam no séc. IV, outros foram retrocedendo até os tempos de S. Cipriano (+ 258), S. Ireneu (+ cerca de 202), Clemente Romano (+ 102?) ou até a geração apostólica. O famoso crítico Harnack (+ 1930) chegava a dizer que já os Apóstolos perverteram o Evangelho de Cristo - o que é evidentemente absurdo, pois não conhecemos o Evangelho de Cristo senão através da pregação e dos escritos dos Apóstolos; Harnack, porém, era obrigado a proferir tal contra-senso, porque reconhecia claramente que a Igreja Católica atual corresponde fielmente à Igreja primitiva ou, como dizia ele, que "Cristianismo, Catolicismo e Romanismo constituem uma identidade histórica perfeita" (Theologische Literaturzeitung, 16 jan. 1909).

Fotos do Rito da Criação de Cardeais, no Consistório Ordinário de 2010







Relação sexual pré-matrimonial



Vários são os fatores que servem de estímulo para os casais

É um grande desafio para a juventude viver a castidade até o matrimônio, a chamada "castidade da juventude". Segundo o Catecismo da Igreja Católica, a castidade "significa a integração da sexualidade na pessoa. Inclui a aprendizagem do domínio pessoal". É uma vivência que, aliada à ordenação dos desejos, torna-nos sempre mais semelhantes a Cristo, conduzindo-nos a uma busca pela santidade de maneira responsável.

Entretanto, a castidade é um grande desafio para os casais de noivos no tempo que antecede o matrimônio, pois vários são os fatores que servem de estímulo à prática da relação sexual antes do casamento em uma sociedade supererotizada.

Nesse contexto, no qual o jovem vive a sua sexualidade, eles são incentivados a todo o momento, e por diversos meios, à busca pelo prazer a qualquer preço, resultando na prática de relações sexuais pré-matrimoniais, também conhecida como fornicação.

Há os que buscam o sexo por "aventura" ou uma relação sexual "ocasional", tipo de envolvimento que ocorre quando o jovem, na busca pelo prazer, numa simples experiência pessoal e prazerosa, faz da outra pessoa um objeto de satisfação momentânea. Trata-se daqueles encontros que, de modo geral, acontecem em bailes, festas, na rua ou mesmo em casas de prostituição.

Existe também a relação sexual entre namorados que ocorre quando o casal inicia um relacionamento heterossexual com algumas características singulares (conhecimento mútuo, amizade, respeito, carinho), mas, apesar disso, se encontram em um estágio de superficialidade, pois desconhecem a linguagem do amor. Como nos casos citados anteriormente, mesmo entre namorados trata-se de um modo de satisfação momentânea, uma busca irresponsável pelo prazer, pois ainda não existe um compromisso amadurecido.

Outra forma de praticar o ato sexual que vai totalmente contra os preceitos da Igreja está presente na relação sexual "extramatrimonial": o adultério.

A relação sexual vivida em um amor autêntico é entrega pessoal total e definitiva, por isso precisa estar acompanhada do compromisso definitivo selado diante de Deus e da comunidade.

Qualquer que seja o propósito dos que se envolvem em relações sexuais prematuras, ainda que realizadas com sinceridade e fidelidade, por si só, não é o meio mais adequado para garantir a relação interpessoal verdadeiramente honesta entre um homem e uma mulher e para protegê-los contra os devaneios, as fantasias e os caprichos das paixões. Portanto, a Igreja convida os noivos a viver a castidade na continência. "Nessa provação, eles verão uma descoberta do respeito mútuo, uma aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da parte de Deus" (CIC 56).

Torna-se cada dia mais necessário e urgente que as famílias cristãs católicas deem testemunho de respeito, de fidelidade, de amor, de carinho e do verdadeiro valor do matrimônio e da família. Assim, serão exemplos de um amor verdadeiro e honesto.