sexta-feira, 25 de junho de 2010

Resposta do Papa Bento XVI, sobre a Pedofilia na Irlanda

Carta Pastoral
do Santo Padre Bento XVI
aos Católicos na Irlanda

1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos. Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes actos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.

Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação. Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidads, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas. Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país,, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.

Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus.

Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a protecção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.

Enquanto enfretais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da «rocha de que fostes talhados» (Is 51, 1). Reflecti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual. A minha oração é por que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus omnipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais rectos da Igreja na sua terra natal.

A partir do século XVI, os católicos na Irlanda sofreram um longo período de perseguição, durante o qual lutaram para manter viva a chama da fé em circunstâncias perigosas e difíceis. Santo Oliver Plunkett, o Arcebispo mártir de Armagh, é o exemplo mais famoso de uma multidão de corajosos filhos e filhas da Irlanda dispostos a dar a própria vida pela fidelidade ao Evangelho. Depois da Emancipação Católica, a Igreja teve a liberdade de crescer de novo. Famílias e inúmeras pessoas que tinham preservado a fé durante os tempos das provações tornaram-se a centelha de um grande renascimento do catolicismo irlandês no século XIX. A Igreja forneceu escolarização, sobretudo aos pobres, e isto deu uma grande contribuição à sociedade irlandesa. Um dos frutos das novas escolas católicas foi um aumento de vocações: gerações de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários deixaram a pátria para servir em todos os continentes, sobretudo no mundo de língua inglesa. Foram admiráveis não só pela vastidão do seu número, mas também pela robustez da fé e pela solidez do seu empenho pastoral. Muitas dioceses, sobretudo em África, América e Austrália, beneficiaram da presença de clero e religiosos irlandeses que anunciaram o Evangelho e fundaram paróquias, escolas e universidades, clínicas e hospitais, que serviram tanto os católicos, como a sociedade em geral, com atenção especial às necessidades dos pobres.

Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afecto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e actualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decénios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa. Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como por exemplo a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas. Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adoptar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho. O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por recta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canónicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.

Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise actual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os factores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes factores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas. Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes» (Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).

Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a reflectir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias

Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É comprensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós têm dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início.

Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflictais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens

Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus omnipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas acções. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.

Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas acções. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

8. Aos pais

Ficastes profundamente transtornados ao tomar conhecimento das coisas terríveis que tiveram lugar naquele que deveria ter sido o ambiente mais seguro para todos. No mundo de hoje não é fácil construir um lar doméstico e educar os filhos. Eles merecem crescer num ambiente seguro, amados e queridos, com um forte sentido da sua identidade e do seu valor. Têm direito a ser educados nos valores morais autênticos, radicados na dignidade da pessoa humana, a serem inspirados pela verdade da nossa fé católica e a aprender modos de comportamento e de acção que os levem a uma sadia estima de si e à felicidade duradoura. Esta tarefa nobre e exigente está confiada em primeiro lugar a vós, seus pais. Exorto-vos a fazer a vossa parte para garantir a melhor cura possível dos jovens, quer em casa quer na sociedade em geral, enquanto que a Igreja, por seu lado, continua a pôr em prática as medidas adoptadas nos últimos anos para tutelar os jovens nos ambients paroquiais e educativos. Enquanto dais continuidade às vossas importantes responsabilidades, certifico-vos de que estou próximo de vós e que vos dou o apoio da minha oração.

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda

Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias. Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8). Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para o renovamento da nossa amada Igreja.

10. Aos sacerdotes e aos religiosos da Irlanda

Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada ou não enfrentaram de modo justo e responsável as acusações de abuso. Perante o ultraje e a indignação que isto causou, não só entre os leigos mas também entre vós e as vossas comunidades religiosas, muitos de vós sentis-vos pessoalmente desanimados e também abandonados. Além disso, estou consciente de que aos olhos de alguns sois culpados por associação, e considerados como que de certo modo responsáveis pelos delitos de outros. Neste tempo de sofrimento, desejo reconhecer-vos a dedicação da vossa vida de sacerdotes e de religiosos e dos vossos apostolados, e convido-vos a reafirmar a vossa fé em Cristo, o vosso amor à sua Igreja e a vossa confiança na promessa de redenção, de perdão e de renovação interior do Evangelho. Deste modo, demonstrareis a todos que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5, 20).

Sei que muitos de vós estais desiludidos, transtornados e encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores. Não obstante, é essencial que colaboreis de perto com quantos têm a autoridade e que vos comprometais para fazer com que as medidas adoptadas para responder à crise sejam verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes. Sobretudo, exorto-vos a tornar-vos cada vez mais claramente homens e mulheres de oração, seguindo com coragem o caminho da conversão, da purificação e da reconciliação. Deste modo, a Igreja na Irlanda haurirá nova vida e vitalidade do vosso testemunho ao poder redentor do Senhor tornado visível na vossa vida.

11. Aos meus irmãos bispos

Não se pode negar que alguns de vós e dos vossos predecessores falhastes, por vezes gravemente, na aplicação das normas do direito canónico codificado há muito tempo sobre os crimes de abusos de jovens. Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações. Compreendo como era difícil lançar mão da extensão e da complexidade do problema, obter informações fiáveis e tomar decisões justas à luz de conselhos divergentes de peritos. Contudo, deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canónico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Claramente, os superiores religiosos devem fazer o mesmo. Também eles participaram em recentes encontros aqui em Roma destinados a estabelecer uma abordagem clara e coerente destas questões. É obrigatório que as normas da Igreja na Irlanda para a tutela dos jovens sejam constantemente revistas e actualizadas e que sejam aplicadas de modo total e imparcial em conformidade com o direito canónico.

Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito e a benquerença dos Irlandeses em relação à Igreja à qual consagrámos a nossa vida. Isto deve brotar, antes de tudo, do exame de vós próprios, da purificação interior e da renovação espiritual. O povo da Irlanda espera justamente que sejais homens de Deus, que sejais santos, que vivais com simplicidade, que procureis todos os dias a conversão pessoal. Para ele, segundo a expressão de Santo Agostinho, sois bispos; contudo estais chamados a ser com eles seguidores de Cristo (cf. Discurso 340, 1). Exorto-vos portanto a renovar o vosso sentido de responsabilidade diante de Deus, a crescer em solidariedade com o vosso povo e a aprofundar a vossa solicitude pastoral por todos os membros da vossa grei. Em particular, sede sensíveis à vida espiritual e moral de cada um dos vossos sacerdotes. Sede um exemplo com as vossas próprias vidas, estai-lhes próximos, ouvi as suas preocupações, oferecei-lhes encorajamento neste tempo de dificuldades e alimentai a chama do seu amor a Cristo e o seu compromisso no serviço dos seus irmãos e irmãs.

Também os leigos devem ser encorajados a fazer a sua parte na vida da Igreja. Fazei com que sejam formados de modo que possam dizer a razão, de maneira articulada e convincente, do Evangelho na sociedade moderna (cf. 1 Pd 3, 15), e cooperem mais plenamente na vida e na missão da Igreja. Isto, por sua vez, ajudar-vos-á a ser de novo guias e testemunhas credíveis da verdade redentora de Cristo.

12. A todos os fiéis da Irlanda

A experiência que um jovem faz da Igreja deveria dar sempre fruto num encontro pessoal e vivificante com Jesus Cristo numa comunidade que ama e que oferece alimento. Neste ambiente, os jovens devem ser encorajados a crescer até à sua plena estatura humana e espiritual, a aspirar por ideais nobres de santidade, de caridade e de verdade e a inspirar-se nas riquezas de uma grande tradição religiosa e cultural. Na nossa sociedade cada vez mais secularizada, na qual também nós critãos muitas vezes temos dificuldade em falar da dimensão transcendente da nossa existência, precisamos de encontrar novos caminhos para transmitir aos jovens a beleza e a riqueza da amizade com Jesus Cristo na comunhão da sua Igreja. Ao enfrentar a presente crise, as medidas para se ocupar de modo justo de cada um dos crimes são essenciais, mas sozinhas não são suficientes: há necessidade de uma nova visão para inspirar a geração actual e as futuras a fazer tesouro do dom da nossa fé comum. Caminhando pela via indicada pelo Evangelho, observando os mandamentos e conformando a nossa vida de maneira cada vez mais próxima com a pessoa de Jesus Cristo, fareis a experiência da renovação profunda da qual hoje há uma urgente necessidade. Convido-vos a todos a perseverar neste caminho.

13. Amados irmãos e irmãs em Cristo, é com profunda preocupação por todos vós neste tempo de sofrimento, no qual a fragilidade da condição humana foi tão claramente revelada, que desejei oferecer-vos estas palavras de encorajamento e de apoio. Espero que as acolhais como um sinal da minha proximidade espiritual e da minha confiança na vossa capacidade de responder aos desafios do momento actual tirando renovada inspiração e força das nobres tradições da Irlanda de fidelidade ao Evangelho, de perseverança na fé e de firmeza na consecução da santidade. Juntamente com todos vós, rezo com insistência para que, com a graça de Deus, as feridas que atingiram muitas pessoas e famílias possam ser curadas e que a Igreja na Irlanda possa conhecer uma época de renascimento e de renovação espiritual.

14. Desejo propor-vos algumas iniciativas concretas para enfrentar a situação. No final do meu encontro com os Bispos da Irlanda, pedi que a Quaresma deste ano fosse considerada como tempo de oração para uma efusão da misericórdia de Deus e dos dons de santidade e de força do Espírito Santo sobre a Igreja no vosso país. Agora convido todos vós a dedicar as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, por esta finalidade. Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça.

Deve ser dedicada também particular atenção à adoração eucarística, e em cada diocese deverão haver igrejas ou capelas reservadas especificamente para esta finalidade. Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles. Com oração fervorosa diante da presença real do Senhor, podeis fazer a reparação pelos pecados de abuso que causaram tantos danos, e ao mesmo tempo implorar a graça de uma renovada força e de um sentido da missão mais profundo por parte de todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis.

Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8, 32).

Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento.

Além disso proponho que se realize uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Alimento a esperança de que, haurindo da competência de peritos pregadores e organizadores de retiros quer da Irlanda como de outras partes, e reexaminando os documentos conciliares, os ritos litúrgicos da ordenação e da profissão e os recentes ensinamentos pontifícios, alcanceis um apreço mais profundo das vossas respectivas vocações, de modo a redescobrir as raízes da vossa fé em Jesus Cristo e a beber abundantemente nas fontes da água viva que ele vos oferece através da sua Igreja.

Neste Ano dedicado aos Sacerdotes, recomendo-vos de modo muito particular a figura de São João Maria Vianney, que teve uma compreensão tão rica do mistério do sacerdócio. «O sacerdote, escreveu, possui a chave dos tesouros do céu: é ele quem abre a porta, é ele o dispensador do bom Deus, o administrador dos seus bens». O cura d’Ars compreendeu bem como é grandemente abençoada uma comunidade quando é servida por um sacerdote bom e santo. «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o tesouro maior que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». Por intercessão de São João Maria Vianney possa o sacerdócio na Irlanda retomar vida e a inteira Igreja na Irlanda crescer na estima do grande dom do ministério sacerdotal.

Aproveito esta ocasião para agradecer desde já a quantos se comprometerem no empenho de organizar a Visita Apostólica e a Missão, assim como os tantos homens e mulheres que em toda a Irlanda já se comprometeram pela tutela dos jovens nos ambientes eclesiásticos. Desde quando a gravidade e a extensão do problema dos abusos sexuais dos jovens em instituições católicas começou a ser plenamente compreendido, a Igreja desempenhou uma grande quantidade de trabalho em muitas partes do mundo, a fim de o enfrentar e remediar. Enquanto não se deve poupar esforço algum para melhorar e actualizar procedimentos já existentes, encoraja-me o facto de que as práticas de tutela em vigor, adoptadas pelas Igrejas locais, são consideradas, nalgumas partes do mundo, um modelo que deve ser seguido por outras instituições.

Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afecto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afecto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.

Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São José

Benedictus PP. XVI



ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA



Deus dos nossos pais,
Renova-nos na fé que é para nós vida e salvação
na esperança que promete perdão e renovação interior,
na caridade que purifica e abre os nossos corações
para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs.

Senhor Jesus Cristo
possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso
na formação dos nossos jovens no caminho da verdade,
da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade.

Espírito Santo, consolador, advogado e guia,
inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico
para a Igreja na Irlanda.

Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas
o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado,
e o nosso firme propósito de correcção,
dar abundantes frutos de graça
para o aprofundamento da fé
nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações,
e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa,
e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria
e da paz, na inteira família humana.

A ti, Trindade,
com plena confiança na amorosa protecção de Maria,
Rainha da Irlanda, nossa Mãe,
e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos,
recomendamos a nós próprios, os nossos jovens,
e as necessidades da Igreja na Irlanda.

Amém.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Maria, consoladora dos aflitos

Amá-la significa imitar-lhes as virtudes

Por tudo que padeceu em sua existência, a Santíssima Virgem Maria se tornou a consoladora dos aflitos. A vida humana é, realmente, quer queiramos ou não, pontilhada de aflições. Estas visitam o ser mortal a cada passo e, muitas vezes, deixam sequelas profundas. Umas decorrem de fora, outras são inatas à finitude ontológica do homem. As primeiras ocorrem ao ensejo do falecimento de entes queridos, das atitudes maldosas do próximo, das injunções conjunturais a envolverem os bens criados. Possuem matizes variados e são detonadores de outras atribulações. As causas internas geram moléstias orgânicas, estados mórbidos psíquicos, depressões, a luta permanente entre o bem e o mal. A capitulação às insídias diabólicas por força da inclinação ao mal, fruto do pecado original, muitas vezes colocam muitas consciências em frangalhos com reflexos somáticos graves.


O ser racional é obrigado a conviver a cada passo com os mais imprevisíveis e variados problemas. Adite-se que não é fácil cada um conviver consigo mesmo. O Livro do Eclesiástico retrata bem esta situação existencial do homem: “Vi tudo que se faz debaixo do sol e vi que tudo era vaidade e a aflição do espírito” (Ecl 1,14). Isto tudo, porém, faz parte do processo soteriológico pessoal. Se é verdade que muitas vezes a angústia humana pode ser evitada, porque ocasionada pela própria pessoa, por suas imprudências e erros individuais, outras Deus as permite como oportunidade magnífica de aprimoramento. Os textos bíblicos revelam que se conturba o ânimo diante de uma situação difícil, perante os obstáculos. Surgem então o temor, a perplexidade.


O termo grego stenochoria significa estar mergulhado em miserabilíssima apreensão. É um estado de desolação que aflige quem nele se acha. Sobretudo na velhice o campo está franqueado a todo tipo de situações penosas. Se assim é, Maria que tanto sofreu, juntamente com Jesus, sabe melhor do que ninguém o amargor da lágrima de cada um, a acerbidade do mal que atanaza o espírito e o corpo, o agror do sofrer, a mágoa que fere, o tormento que aflige. Ela esteve ao lado do seu divino Filho sofredor, viveu os transes de sua Paixão e Morte e padeceu com tudo isto e, deste modo, está apta para vir e ajudar todo aquele que sofre. A Senhora das Dores é a Consoladora dos aflitos porque ela sabe o que é a dor e porque muito nos ama.

O papa João Paulo II mostrou o fundamento desta sublime realidade: “Era deste amor misericordioso, precisamente, o qual se manifesta sobretudo em contato com o mal moral e físico, que participava de modo singular e excepcional o coração daquela que foi a Mãe do Crucificado e do Ressuscitado. Sim, Maria Santíssima participava de tal amor; e nela e por meio dela o mesmo amor não cessa de revelar-se na história da Igreja e da humanidade.


Esta revelação é particularmente frutuosa, porque se funda, tratando-se da Mãe de Deus, na singular percepção do seu coração materno, na sua sensibilidade particular, na sua especial capacidade para atingir todos aqueles que aceitam mais facilmente o amor misericordioso da parte de uma mãe”. A Mãe das Dores está atenta às necessidades de seus filhos. Pelo muito que padeceu não há mal que ela não possa debelar. Ela consola, conforta e ampara. Por tudo isto nada melhor do que venerar e implorar a Maria que tanto sofreu. O culto à Senhora das Dores, Rainha dos Mártires, que remonta aos primórdios do cristianismo, sobre demonstrar gratidão a ela, significa estar matriculado na escola de uma Mestra admirável, que ensina estas preciosas lições que formam o cristão e lhe retemperam o ânimo, garantindo-lhe proteção nos momentos aflitivos.


Honrar Nossa Senhora das Dores implica, além disto, num imediato e radical aborrecimento do maior de todos os males que é o pecado, morte da alma, causa dos dissabores que Jesus e ela experimentaram, fonte de tantos males para quem se afasta de Deus. A exemplo de Maria cumpre cooperar na obra da salvação empreendida por Cristo, levando os corações empedernidos a corresponderem às graças que jorraram das cinco chagas do Redentor, oferecendo sacrifícios pela conversão dos transviados. O muito que ela sofreu sobretudo na Rua da Amargura, aos pés da Cruz e com a soledade, após o enterro de seu dileto Filho, insufla, além disto, confiança inabalável na sua atuação materna. É que ela não apenas compreende as decepções humanas, como ainda, lá do céu, continua sua tarefa de Corredentora dos filhos na caminhada por este vale de lágrimas. Adite-se que a Senhora das Dores faz progredir em toda espécie de boas obras, mormente no sacrifício pelo próximo. Desvalidos, excluídos do reino do céu, mister se fazia que um Deus redimisse a humanidade.


Maria sabia que ao dar consentimento na participação nesta tarefa redentora muito iria sofrer. Se ela se compadeceu de nossa miséria, porque também nós não nos compadeceremos diante da penúria de nossos irmãos que sofrem toda espécie de privação? Acrescente-se que as dores de Maria nos levam a amá-la cada vez mais por ter ela nos demonstrado tanta dileção. Amá-la significa imitar-lhes as virtudes, fazendo resplandecer em nós um pouco da grandeza desta mãe extraordinariamente santa. Como, porém, é pela cruz que se chega à luz da bem-aventurança eterna, venerar a Senhora das Dores é estar a seu exemplo sempre junto da Cruz redentora, aceitando com resignação as provações que Deus envia a cada um. Somente assim se chegará àquela ventura sem fim a nós merecida pela Paixão de Jesus e pela Compaixão de Maria.


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

sábado, 19 de junho de 2010

O papel da Virgem Maria na Igreja



A Igreja experimenta continuamente a eficácia da ação de Mãe

delicious twitter São Bernardo, doutor da Igreja, disse que "Deus quis que recebêssemos tudo por Maria". De fato, por ela nos veio o Salvador e tudo o mais. Sem dúvida, o papel preponderante da Santíssima Virgem na vida da Igreja é o de Mãe.


A Igreja, como o Cristo, nasce no seu regaço:

“Todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, em companhia de algumas mulheres, entre as quais Maria, a Mãe de Jesus e de Seus irmãos” (At 1,14).


Neste quadro de Pentecostes São Lucas destaca a pessoa de Nossa Senhora, a única que é recordada com o próprio nome, além dos apóstolos. Ela promove, na Igreja nascente, a perseverança na oração e a concórdia no amor. É o papel de mulher e de Mãe. São Lucas também faz questão de apresentá-la explicitamente como “a mãe de Jesus” (cf. At 1,14), de forma a dizer que algo da presença do Filho, que subiu ao céu, permanece na presença da Mãe. Ela, que cuidou de Jesus, passa agora a cuidar da Igreja, o Corpo Místico do Seu Filho. Desde o começo a Virgem Maria exerce o seu papel de “Mãe da Igreja".


Com essas palavras pronunciadas na Cruz: “Mulher, eis aí o teu filho" (Jo 19, 26), Cristo lhe dá a função de Mãe universal dos crentes. Entregando-a ao discípulo amado como Mãe, Nosso Senhor Jesus Cristo quis também indicar-nos o exemplo de vida cristã a ser imitado. Se Cristo no-la deu aos pés da Cruz, é porque precisamos dela para a nossa salvação. Não foi à toa que o Resssuscitado nos deu a Sua Mãe...


Esta missão materna e universal da Santíssima Virgem Maria aparece na sua preocupação para com todos os cristãos, de todos os tempos. Sem cessar ela socorre a Igreja e os seus filhos. Os cristãos a invocam como “Auxiliadora”, reconhecendo-lhe o amor materno que socorre os seus filhos, sobretudo quando está em jogo a salvação eterna. A convicção de que Nossa Senhora está próxima dos que sofrem ou se encontram em perigo levou os fiéis a invocá-la como “Socorro”. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!


A mesma confiante certeza é expressa pela mais antiga oração mariana, do século II, na época das perseguições romanas, com as palavras: “Sob a vossa proteção recorremos a vós, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós que estamos na prova, e livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!” (Do Breviário Romano).


Na sua peregrinação terrena, a Igreja experimenta continuamente a eficácia da ação da “Mãe na ordem da graça”. Ela tem um lugar especial no coração de cada filho. Não é um sentimento superficial, mas afetivo, real, consciente, vivo, arraigado e que impele os cristãos de ontem e de hoje a recorrerem sempre a ela, para entrarem em comunhão mais íntima com Cristo.


Nossa Senhora une não só os cristãos atuantes, mas também o povo simples e até os que estão afastados. Para esses, muitas vezes, a Virgem Maria é o único vínculo com a vida da Igreja. Ela nos educa a viver na fé em todas as situações da vida, com audácia e perseverança constante. A sua maternal presença na Igreja ensina os cristãos a se colocarem na escuta da Palavra do Senhor. O exemplo da Virgem Maria faz com que a Igreja aprenda o valor do silêncio. O silêncio de Maria é, sobretudo, sabedoria e acolhimento da Palavra.


A Igreja aprende a imitá-la no seu caminho cotidiano. E assim, unida com a Mãe, conforma-se cada vez mais com seu Esposo.

Namorar é muito bom





O namoro é uma grande conquista antes do casamento

delicious twitter Penso que toda pessoa deva ter alguém na vida para partilhar as suas alegrias e tristezas, conversar, brincar, descontrair-se. Algumas escolhem ter muitos amigos e por isso colocam nestas relacões de amizade estas possibilidades de partilha. Mas além dos amigos, outras se sentem atraídas por alguém em especial, que lhes causa certo desejo de estarem juntos, brotando sentimentos e emoções imotivadas quando se encontram, os olhos brilham, o coração bate mais forte: acontece o enamoramento, primeiro sintoma de um amor que pode amadurecer até um casamento feliz. Isso leva tempo e é preciso explorar bem todas essas emoções, cruzar isso com a razão, polvilhar com muito diálogo e uma partilha aberta e irrestrita de vida. A isso tudo podemos chamar de namoro, uma fase a vida de quem é chamado a viver com alguém, que começa e nunca termina, pois ao terminar o namoro, acabou o amor.


Muitos casamentos entram em crises profundas pela falta de namoro. Pensam que depois que estão casados, portanto, morando juntos, isso ficou para trás. Mas é exatamente o contrário, a fase mais extraordinária do namoro é o casamento. O matrimônio proporciona a melhor hora de namorar e namorar muito se os cônjuges buscam ocasiões para estarem juntos e apreciarem a presença um do outro, passear e conversar muito, fazer planos para o futuro e para os filhos, descontrair, beijar e amar-se profundamente.


Essa é uma leitura amadurecida de um relacionamento que não deixou as dificuldades próprias da vida colocarem sombras sobre toda luz que emana de duas pessoas que se amam, que cultivaram este amor e que querem crescer juntas e terem uma vida cheia de sentido e prazer. O prazer, sobretudo o sexual, é uma graça própria do sacramento do matrimônio, fonte de alegria, como diz a Encíclica Casti Connubbi, do Papa Pio XI, a qual citei em outro artigo sobre castidade conjugal (você pode ler neste Blog).


O namoro é uma grande conquista antes do casamento e depois do casamento. Podemos até fazer comparação com o amor de Deus, que é um amor apaixonado. Estamos chegando no Dia dos Namorados e eu quero convocar os casados a reconquistarem as suas esposas ou seus maridos, convidando-os a retomarem urgentemente o namoro. Namorar é tão bom que eleva a alma a Deus, produz efeitos positivos na saúde física e psíquica da pessoa. O amor começa no namoro e tende a acabar quando o namoro para. É tempo de retomada, caprichem!


Se você não é casado ainda, e não tem namorado(a), busque a pessoa certa, o que não quer dizer perfeita, e não tenha medo de namorar, deixando o sexo para depois do casamento. A pessoa é construída pelo amor que lhe damos, se ela for receptiva. O amor nasce de encontros, de olhares, perca o medo e deixe-se levar pelas emoções, invista e insista nos sentimentos.
Falar sobre liberdade

Quantos de nós já não tivemos uma imensa vontade de sair voando
Vamos falar sobre liberdade? Parece encantador pensar em ser livre como um pássaro, não é mesmo?


Quantos de nós já não tivemos uma imensa vontade de sair “voando” por aí, vendo-nos livres das responsabilidades, das dificuldades, daquilo que nos aflige, daquela prova que não queremos fazer, daquela decisão que não queremos tomar ou, simplesmente, ser livre para não seguir regras de casa, dos pais, da sociedade.


Mas será que tudo é permitido? Nossa referência é da liberdade enquanto poder, ou seja, daquele desejo de ultrapassar limites e nesse sentido, quanto menos limites, restrições e regras, tanto maior é sensação de liberdade sentida pela pessoa. Porém, isso é uma visão distorcida do verdadeiro ser livre. Esta passagem bíblica nos traz esta recordação: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (cf. I Cor 6,12).


Não é possível negar uma realidade que sempre impõe regras a serem respeitadas e delas dependem a convivência saudável de uma comunidade. Assumir suas escolhas, analisar as possibilidades e observar os caminhos disponíveis de forma consciente são atos de liberdade; de liberdade responsável, especialmente, quando, de fato, tomamos um posicionamento definido.


O não escolher já é uma escolha. Porém, as escolhas podem ser mais ou menos conscientes. Quando ela não é clara para o homem, quando os motivos não estão explicitados, a escolha transforma-se em condenação – pois de qualquer maneira haverá uma escolha.


Liberdade é própria do homem; quando podemos ser livres nessas escolhas nos colocamos em papel de responsáveis pelos atos e pelas consequências destes. Fugindo e deixando que os outros pensem por nós, decidam por nós, ou ainda que atribuamos a responsabilidade para o outro, isso também é um ato livre, mas, talvez, não o mais consciente.


Ser livre é assumir responsabilidade por cada momento de seu viver, cuidando de suas escolhas da maneira mais autêntica possível, encarando os desafios e a angústia de estar lançado em um mundo que não oferece nenhum tipo de garantia de sucesso ou felicidade. Essas conquistas irão depender da maneira como cada um constrói seu caminho para a realização de seus projetos e como cada um de nós assume o projeto de liberdade responsável em nossas vidas, conduzindo nossa existência, porque ”Tudo me é permitido, mas nem tudo me

Valor de um abraço



Gestos concretos favorecem o desenvolvimento físico

Sempre e de alguma forma, no reino animal, os filhotes, ao nascerem, são cercados de cuidados, de atenção e proteção. Os gatinhos, cachorrinhos, leõezinhos, entre outros, recebem várias lambidas de suas mães, e estas os aconchegam junto de si aquecendo-os. As aves colocam seus filhotes embaixo de suas asas; outras mães entregam os seus filhos aos cuidados dos pais e partem em busca de alimento para o sustento deles [filhotes]. Conforme esses animais vão se desenvolvendo estes cuidados vão diminuindo, até que os filhotes se tornem capazes de lutar pela própria sobrevivência; no entanto, alguns continuam vivendo junto de seu bando.


Um pouco diferente dos nossos amigos animais, parece-nos que as pessoas necessitam constantemente deste calor humano. Diversas pesquisas revelam que o contato físico, o toque, o olhar e a proteção, transmitidos por gestos concretos, favorecem o desenvolvimento físico, psíquico e espiritual do ser humano.


Spitz, em suas pesquisas com bebês institucionalizados, com ou sem a presença de suas mães, chega à conclusão de que aqueles que não são trazidos ao colo para ser amamentados e que são deixados por longo período sozinhos em seus berços desenvolvem o que ele chama de "marasmo", um estado de letargia, de não expressão e podem até chegar a óbito precoce, sem causa específica.


Winnicott, ao estudar crianças abandonadas, órfãs da Segunda Guerra Mundial, observa que o nível de delinquência e agressividade é altíssimo entre elas. Entretanto, pesquisas atuais revelam que crianças em condições semelhantes às estudadas pelo psicanalista [Winnicott], mas que receberam auxílio por intermédio de pessoas que as acolheram, dispensando-lhes cuidados físicos e emocionais, desenvolveram habilidades sociais, perspectivas de um futuro construtivo e força para enfrentar as adversidades oferecidas pela vida, de forma a se tornarem pessoas mais humanas e altruístas.


A pesquisadora americana Tiffany Field demonstra, a partir de suas pesquisas, que o toque, o contato físico, além de aliviar o estresse e a ansiedade, também diminui a criminalidade. A privação do contato físico causa diversos distúrbios emocionais e de sono, abuso de álcool e drogas. A falta de sono leva à irritabilidade, a qual afeta o sistema imunológico e favorece o aparecimento de diversas doenças, entre elas: diarréias, prisão de ventre e infecções respiratórias.


A partir desses fatos basta nos perguntarmos: como estou me relacionando com as pessoas, principalmente com as mais próximas? Eu já abracei alguém hoje? Liguei para alguém a fim de saber como ele está?


Se não, não perca tempo, abrace, beije, brinque, acaricie, sorria … Você não se arrependerá e viverá mais, feliz e saudável.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Intercessão dos Santos .



Desde os tempos apostólicos a Igreja ensina que os que morreram na amizade do Senhor, não só podem como estão orando pela salvação daqueles que ainda se encontram na terra. Tal conceito é conhecido como a intercessão dos santos.

A Doutrina

Sobre a doutrina da intercessão dos santos, o Catecismo da Igreja Católica ensina:

"Pelo fato que os do céu estão mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade... Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam por meio do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos que adquiriram na terra... Sua solicitude fraterna ajuda, pois, muito a nossa debilidade." (CIC 956)

Por tanto para a Igreja Católica, os santos intercedem por nós junto ao Pai, não pelos seus méritos, mas pelos méritos de Cristo Nosso Senhor, o único Mediador entre Deus e os homens.

Objeções

Os adeptos do fundamentalismo bíblico normalmente apresentam uma série de objeções à doutrina da intercessão dos santos. Neste artigo iremos confrontar as principais:

1a. objeção: Cristo é o único mediador entre Deus e os homens.

Esta é a principal objeção à doutrina da intercessão dos Santos. Os adeptos desta objeção fundamentam sua posição em 1 Tim 2,5 onde lemos: "Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus". Para eles, a Sagrada Escritura não deixa dúvidas de que só Jesus pode interceder pelos homens junto a Deus.

Se isto é verdade, por que São Paulo ensinaria que nós cristãos devemos dirigir orações a Deus em favor de outras pessoas? Vejam 1Tim 2,1: "Acima de tudo, recomendo que se façam súplicas, pedidos e intercessões, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade."

No exposto acima não está São Paulo nos pedindo para que sejamos intercessores (mediadores) junto a Deus por todas as pessoas da terra? Estaria então o Santo apóstolo se contradizendo? É claro que não. A questão é que a natureza da mediação tratada no versículo 1 é diferente da do versículo 5.

A mediação tratada em 1Tm 2,5 refere-se à Nova e Eterna Aliança. No AT a mediação entre Deus e os homens se dava através da prática da Lei. No NT, é Cristo que nos reconcilia com Deus, através de seu sacrifício na cruz. É neste sentido que Ele é nosso único mediador, pois foi somente através Dele que recuperamos para sempre a amizade com Deus, como bem foi exposto por São Paulo: "Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos." (Rom 5,19)

Por tanto, a exclusividade da medição de Cristo refere-se à justificação dos homens. A mediação da intercessão dos santos é de outra natureza, referindo-se à providência de Deus em favor do nosso semelhante. Desta forma, o texto de 1Tm 2,5 dentro de seu contexto não oferece qualquer obstáculo à doutrina da intercessão dos santos.

2a. objeção: os santos não podem interceder por que após a morte não há consciência

Os defensores desta objeção usam como fundamento as palavras do Eclesiastes: "Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida" (Ecl. 9,5) e ainda "Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria" (Ecl. 9,10).

Já que a Bíblia é um conjunto coeso de livros, não podemos aceitar a doutrina da ?dormição? ou ?inconsciência? dos mortos simplesmente pelo fato de que há versículos claros na Sagrada Escritura que mostram que os mortos não estão nem "dormindo" e nem "inconscientes" (cf. Is 14, 9-10; 1Pd 3,19; Mt 17,3; Ap 5,8; Ap 7,10; Ap 6,10); o que faria alguém pensar que há contradições na Bíblia.

A questão é que os versículos citados do Eclesiastes não fazem referência a um estado mental dos mortos, mas sim ao infortúnio espiritual em que se encontram por causa do lugar onde estão. Os mortos os quais os textos se referem são aqueles que morreram na inimizade de Deus, e não a qualquer pessoa que morreu. Vejamos os versículos abaixo:

"Ignora ele que ali há sombras e que os convidados [da senhora Loucura] jazem nas profundezas da região dos mortos" (Prov 9,18)

"O sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos" (Prov 15,24)

Os versículos acima mostram que a região dos mortos é um lugar de desgraça, onde são encaminhados os inimigos de Deus. Isto é ainda mais evidente em Prov 15,24. O sábio é aquele que guarda a ciência de Deus, este quando morrer não vai para a "morada dos mortos?. As expressões ?morada dos mortos? ou ?região dos mortos? fazem alusão a um lugar de desgraça, onde os inimigos de Deus estão privados da Sua Graça.

Voltando aos versículos do Eclesiastes, o escritor sagrado ao escrever que para os mortos ?não há mais recompensa?, ?não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria?, refere-se unicamente ao infortúnio que existe ?na região dos mortos, para onde? eles vão. Eles quem? Os que estão mortos para Deus.

Por tanto, dentro de seu contexto, os versículos do Eclesiastes também não oferecem qualquer imposição à doutrina da intercessão dos santos.

3a. objeção: os santos não podem ouvir as orações dos que estão na terra porque não são oniscientes e nem onipresentes

São Paulo nos ensina que a Igreja é o corpo de Cristo . Desta forma, os que estão unidos a Cristo através de seu ingresso na Igreja, são membros do Seu corpo. Isso quer dizer que tantos nós que estamos na terra, quanto os que já morreram na amizade do Senhor, todos somos membros do Corpo Místico de Cristo, onde Ele é a cabeça. Vejam:

Ø São Paulo ensina que a Igreja é corpo de Cristo: "Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja" (Col 1,24)

Ø São Paulo ensina que somos membros do corpo de Cristo e por isto os cristãos estamos ligados uns aos outros: "assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro" (Rom 12,5)

Ø São Paulo ensina que Cristo é a cabeça do seu corpo que é a Igreja: "Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja" (Col 1,18)

Isso quer dizer que nós e os santos (que estão na presença de Deus) estamos ligados, pois somos membros de um mesmo corpo, o corpo de Cristo, que é a Igreja.

Assim como minha mão direita não pode se comunicar com a esquerda sem que esse comando tenha sido coordenado pela minha cabeça (caso contrário seria um movimento involuntário), da mesma forma, no Corpo de Cristo os membros não podem se comunicar sem que essa comunicação aconteça através da cabeça que é Cristo. Desta forma, quando nós pedimos para que os santos intercedam por nós junto a Deus (comunicação de um membro com o outro no corpo de Cristo), isso acontece através de Cristo. Assim como a nossa cabeça pode coordenar movimentos simultâneos entre os vários membros de nosso corpo, Cristo que é a cabeça da Igreja e é onisciente e onipresente possibilita a comunicação entre os membros do Seu corpo.

Por tanto, a falta de onipresença e onisciência dos santos não apresenta qualquer impedimento para que eles conheçam ou recebam nossos pedidos e então possam interceder por nós junto a Deus.

4a. objeção: nós não podemos dirigir nossa orações aos santos pois isto caracteriza evocação dos mortos que é severamente proibida na Bíblia.

Esta objeção baseia-se principalmente nos versículos abaixo:

"Não se ache no meio de ti quem pratique a adivinhação, o sortilégio, a magia, o espiritismo, a evocação dos mortos: porque todo homem que fizer tais coisas constitui uma abominação para o Senhor" (Dt 18, 9-14) (grifos nossos).

"Se uma pessoa recorrer aos espíritos, adivinhos, para andar atrás deles, voltarei minha face contra essa pessoa e a exterminarei do meio do meu povo. (...) Qualquer mulher ou homem que evocar espíritos, será punido de morte" (Lev 20, 6 - 27). (grifos nossos).

Conforme vimos, Deus abomina a evocação dos mortos. No entanto, há uma diferença tremenda entre evocar os mortos e dirigir nossos pedidos de orações aos santos.

A evocação dos mortos é caracterizada pelo pedido de que o espírito do defunto se apresente e então se comunique com os vivos como se ainda estivesse na terra. Esta prática é condenada por Deus, pois em vez de confiarmos na Providência Divina quanto ao futuro e às coisas que necessitamos, deseja-se confiar nas instruções dos espíritos. Conforme a Sagrada Escritura dá testemunho em I Samuel 28.

Na intercessão dos santos, não estamos pedindo que o santo se apresente para ?bater um papo? a fim obter qualquer tipo de informação, mas sim, dirigimos a eles nossos pedidos de oração, como se estivéssemos enviando uma carta solicitando algo (o que é bem diferente de evocar mortos). Na intercessão dos santos continuamos confiando na Providência Divina, pois os santos são apenas mediadores, logo, quem atende aos nossos pedidos é Deus.

Desta forma, as proibições divinas quanto à prática de espiritismo não se aplicam à doutrina da intercessão dos santos.

5a. objeção: não há sequer uma única referência bíblica em relação à intercessão dos santos

Há diversos versículos bíblicos que mostram que os santos oram na presença de Deus. Vejamos:

"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra? Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos" (Ap 6,9-11).

No trecho acima, os santos estão clamando a Deus por Justiça. Alguém poderia dizer: ?mas eles estão intercedendo por eles mesmos e não pelos que ficaram na terra?. Ora, e o que impede que o façam pelos que estão na terra? São Paulo mesmo não recomenda que oremos pelos outros? (cf. 1Tm 2,1). Por alguma razão estariam os santos incapazes de continuarem orando pelos que estão na terra? Ora, alguém que esteja no seu juízo perfeito, há de convir que, o fato dos santos estarem na presença de Deus, não é motivo impeditivo para que intercedam pelos outros, muito pelo contrário, não há melhor lugar e momento para fazê-lo. Veja ainda:

"Os quatro viventes e os vinte e quatro anciões se prostraram diante do Cordeiro. Tinha cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfumes, que são as orações dos santos" (Ap 5,8). "A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.? (Ap 8,4).

Nos versículos acima os santos oram para Deus. Por que estariam orando, já que estão salvos e gozando da presença do Senhor? Oram em nosso favor, para que os que estão na terra também possam um dia estar com eles na presença do Senhor.

No livro do profeta Jeremias lemos:

"Disse-me, então, o Senhor: Mesmo que Moisés e Samuel se apresentassem diante de mim, meu coração não se voltaria para esse povo. Expulsai-o para longe de minha presença! Que se afaste de mim!? (Jr 15,1).

No tempo do profeta, ambos Moisés e Samuel estavam mortos. Que sentido teria este versículo caso não fosse possível que os dois intercedessem por Israel?

O Testemunho dos primeiros cristãos

Vejamos agora o que professava os cristãos no tempo em que não havia divisão na Cristandade, em relação à doutrina da intercessão dos santos:

"O Pontífice [o Papa] não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos juntos também se unem a eles na oração" (Orígenes, 185-254 d.C. Da Oração).

"Se um de nós partir primeiro deste mundo, não cessem as nossa orações pelos irmãos" (Cipriano de Cartago, 200-258 d.C. Epístola 57)

"Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos". (Santo Hilário de Poitiers, 310-367 d.C).

"Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires, para que Deus, por suas intercessões e orações, se digne receber as nossas." (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).

"Em seguida (na Oração Eucarística), mencionamos os que já partiram: primeiro os patricarcas, profetas, apóstolos e mártires, para que Deus, em virtude de suas preces e intercessões, receba nossa oração" (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).

"Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?" (São Jerônimo, 340-420 d.C, Adv. Vigil. 6).

"Portanto, como bem sabem os fiéis, a disciplina eclesiástica prescreve que, quando se mencionam os mártires nesse lugar durante a celebração eucarística, não se reza por eles, mas pelos outros defuntos que também aí se comemoram. Não é conveniente orar por um mátir, pois somos nós que devemos encomendar suas orações" (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 159,1)

"Não deixemos parecer para nós pouca coisa; que sejamos membros do mesmo corpo que elas (Santa Perpétua e Santa Felicidade) (...) Nós nos maravilhamos com elas, elas sentem compaixão de nós. Nós nos alegramos por elas, elas oram por nós (...) Contudo, nós todos servimos um só Senhor, seguimos um só Mestre, atendemos um só Rei. Estamos unidos a uma Cabeça; nos dirigimos a uma Jerusalém; seguimos após um amor, envolvendo uma unidade" (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 280,6)

"Por vezes, é a intercessão dos santos que alcança o perdão das nossas faltas [1Jo 5,16; Tg 5,14-15] ou ainda a misericórdia e a fé" (São João Cassiano. 360-435 d.C. conferência 20).

Conclusão

Como pudemos ver, a doutrina da intercessão do santos, não é invenção do catolicismo (como pensam alguns), mas sim, uma legítima doutrina cristã, embasa tanto nas Sagradas Escrituras, quanto na Tradição Apostólica. Os primeiros cristãos jamais tiverem dúvidas quanto a ela (note que este tema jamais foi centro de disputas conciliares). Esta doutrina confirma o Amor de Deus para conosco e Seu plano de que sejamos uns para outros instrumentos deste Amor

Os Reformadores Protestantes e Maria





D. Estêvão Bettencourt, OSB .É interessante notar que Lutero, Zvinglio e Calvino, autores da Reforma Protestante no século XVI, deixaram belas expressões de estima e louvor a Maria SS.

Martinho Lutero ( 1483-1546)

Lutero foi formado na tradição católica, que lhe ensinou a veneração a Maria, veneração que ele guardou até o fim da vida . Eis alguns de seus depoimentos:

Em seu comentário sobre o Magnificat ( Lc 1,46-55), escreve: "Ó bem-aventurada Mãe, Virgem digníssima, recorda-te de nós e obtém que também em nós o Senhor faça essas grandes coisas!"

Ao referir-se a Mt 1,25, observa: "Destas palavras não se pode concluir que, após o parto, Maria tenha tido consórcio conjugal. Não se deve crer nem dizer isto" (Obras de Lutero, edição Weimar, tomo 11, pg. 323).

Por isto Lutero se insurgia contra aqueles que lhe atribuíam a doutrina de que "Maria, a Mãe de Deus, não tenha sido virgem antes e depois do parto, mas tenha gerado Cristo e outros filhos com contato com José" (Weimar, tomo 11, pg. 314). Os irmãos de Jesus, mencionados no Evangelho, são parentes do Senhor (Weimar, tomo 46, pg. 723); Tischreden 5, nº 5839). O reformador prometia 100 moedas de ouro a quem lhe provasse que a palavra 'almah em Is 7,14 não significa virgem ( Weimar, tomo 53, pg. 640 ).

A respeito das virtudes de Maria, dizia: "A bem-aventurada Virgem via Deus em tudo; não se apegava a criatura alguma; tudo, Ela o referia a Deus... Por isto é puríssima adoradora de Deus, Ela que exaltou Deus acima de todas as coisas" ( Weimar, tomo 1, pg.60s ).

No fim de sua vida, aos 17/01/1546, Lutero exclamou um sermão muito agitado: "Não se deve adorar somente o Cristo? Mas não se deve honrar também a Santa Mãe de Deus? Esta é a mulher que esmagou a cabeça da serpente. Ouve-nos, pois o Filho te honra; Ele nada te nega. Bernardo foi longe demais ao comentar o Evangelho... Só a respeito de Cristo está dito: 'Ouvi-o' e: 'Eis o Cordeiro de Deus'... Isto não foi dito a propósito de Maria, nem dos anjos, nem de Gabriel" ( Weimar, tomo 51, pg. 128s).

Vê-se que até os últimos dias Lutero guardou certa devoção à Mãe de Deus... Que ele invocou no seu comentário ao Magnificat: "A mesma amantíssima Mãe de Deus queira obter a graça para mim, a fim de que possa expor o seu cântico com proveito e profundidade" (Weimar, tomo 7, pg. 545 ).

No tocante às imagens, Lutero excluía a adoração e a idolatria, mas não as proibia; afirmava que as proibições feitas no Antigo Testamento não afetavam os cristãos ( Weimar 7.10, p. 440-445; tomos 28, pp.677s). Censurava os iconoclastas como fanáticos e sectários furiosos ( Weimar, tomos 18, pp. 70.80-82). Considerava as imagens como a Bíblia dos pobres e tinha-as como muito adequadas tanto à natureza humana psicossomática quanto ao modo como Deus costuma tratar os homens.

Até o fim da vida, Lutero pregou em festas de Nossa Senhora: a da Purificação (2 de fevereiro) e a da Anunciação (25 de março) sempre lhe foram caras, ao passo que as da Assunção e da Natividade de Maria somente até certa fase de sua evolução religiosa.

João Calvino ( 1509-1564)

Calvino em Genebra (Suíça) foi muito mais radical do que Lutero na Alemanha. Imprimiu notas pessoais à Reforma, entre as quais as do presbiterianismo.

Em relação a Maria, professa a Maternidade virginal:

"Professo que da genealogia de Cristo não se pode deduzir que Ele foi Filho de Davi a não ser através da Virgem" (Calvini Ópera 2,351).

A respeito de Mt 1,25 escreve: "Jesus é dito primogênito unicamente para que saibamos que Ele nasceu da Virgem" (CO 45,645).

A propósito Is 7,14: " O profeta teria feito coisa muito fria e insípida se, depois de anunciar algo de novo e insólito entre os judeus, acrescentasse: 'Uma jovem conceberá'. É assaz claro, portanto, que ele fala da Virgem, que havia de conceber não conforme as leis ordinárias da natureza, mas por graça do Espírito Santo" ( CO 36,156s).

Calvino exalta as virtudes de Maria quando escreve: "Quando a Virgem disse: 'Eis a Serva do Senhor', ela se ofereceu e entregou totalmente a Deus, para que se servisse dela conforme os direitos de Deus. 'Faça-se em mim': entendo estas palavras como expressão de que Maria estava persuadida do poder de Deus e voluntariamente se dispunha a atender ao seu chamado; acreditou na promessa do Senhor, cuja realização Ela não somente esperava, mas também pedia ardorosamente" ( CO 45,30).

Ao comentar a frase: "Bem-aventurada me dirão todas as gerações", julga que Maria assim "proclamava uma tão grande dádiva de Deus que não era lícito silenciá-la... Reconhecemos que este dom foi altamente honroso para Maria. De boa vontade seguimo-la como mestra e obedecemos aos ensinamentos e preceitos da Virgem" ( CO 45,38).

Ulrico Zvinglio ( 1484-1531)

Zvinglio em Zürich (Suíça) iniciou uma reforma, que foi posteriormente absorvida pelo Calvinismo. Escreveu:

"Creio firmemente que, segundo o Evangelho, Maria, como Virgem pura, gerou o Filho de Deus e no parto e após o parto permaneceu para sempre Virgem pura e íntegra. Também acredito firmemente que ela foi por Deus exaltada acima de todas as criaturas Bem-aventuradas (homens e anjos) na eterna bem-aventurança" (Zwinglii Opera 1,424).

Os "irmãos do Senhor" eram, para Zvinglio, "os amigos do Senhor" ( ZO 1,401}.

Declarou: "Estimo grandemente a Mãe de Deus, a Virgem Maria perpetuamente casta e imaculada" ( ZO 2,189).

Amman, discípulo e contemporâneo de Zvinglio, declarou: " Maria foi preservada de toda mancha e culpa: do pecado original, do pecado mortal e do pecado atual".

Heinrich Bullinger, sucessor de Zvinglio, testemunhou:

"Cremos que o corpo puríssimo da Virgem Maria, Mãe de Deus é templo do Espírito Santo... foi levado pelos anjos ao céu".

Em conclusão, Zvinglio: "Quanto mais crescem a honra e o amor de Cristo entre os homens, tanto mais crescem também a estima e a honra de Maria, que gerou para nós um tão grande e propício Senhor e Redentor" (ZO 1,427s).

Como se vê, os mestres da Reforma foram muito mais fiéis a Maria do que os seus discípulos, "reformadores da Reforma do século XVI". Todavia no protestantismo contemporâneo nota-se uma volta às origens, da qual vai aqui transcrito um espécimen, tirado de um Catecismo luterano:

"Maria faz parte do Evangelho... É apresentada como aquela que ouviu de maneira exemplar a palavra de Deus, como a serva do Senhor que diz Sim à palavra de Deus, como a cheia de graça que por si mesma nada é, mas que é tudo por bondade de Deus. É, com efeito, o modelo original dos homens que se abrem a Deus e se deixam enriquecer por Ele, o modelo original da comunidade dos fiéis, da Igreja... 'Concebido por obra do Espírito Santo, nascido da Virgem Maria': é uma verdade que confessamos de Jesus; conseqüentemente, confessamos também que Maria é a Mãe de Nosso Senhor" (Evangelischer Erwachsenenkatechismus, sob a direção de W. Jehtsh, Gütersloh).

É de esperar que o movimento de volta às fontes tem a sua feliz continuidade no protestantismo.
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Os católicos adoram os santos?

."Pela tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Lot, que estava assentado à porta da cidade, ao vê-los, levantou-se e foi-lhes ao encontro e prostrou-se com o rosto por terra" (Gn 19,1).

Todo católico já deve ter sido interpelado por um protestante a respeito do uso das imagens na Igreja Católica. Suas perguntas nesta matéria sempre vêm com a acusação de que nós católicos somos idólatras porque fazemos uso das imagens. O mais interessante e também triste é que normalmente essas pessoas se dizem ex-católicas. E não me surpreendo em sempre verificar que foram “católicos” muito mal formados ou totalmente ignorantes da doutrina que dizem ter professado.

Será que esses ex-“católicos” já leram no Catecismo da Igreja Católica o ensino da Igreja sobre o uso das imagens? Lá encontramos:

2131. Com base no mistério do Verbo encarnado, o sétimo Concílio ecuménico, de Niceia (ano de 787) justificou, contra os iconoclastas, o culto dos ícones: dos de Cristo, e também dos da Mãe de Deus, dos anjos e de todos os santos. Encarnando, o Filho de Deus inaugurou uma nova «economia» das imagens.

2132. O culto cristão das imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos. Com efeito, «a honra prestada a uma imagem remonta (63) ao modelo original» e «quem venera uma imagem venera nela a pessoa representada» (64). A honra prestada às santas imagens é uma «veneração respeitosa», e não uma adoração, que só a Deus se deve:

«O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas olha-as sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas orienta-se para a realidade de que ela é imagem» (65).” (Catecismo da Igreja Católica, 2131-2132.)

Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como, por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.

Pode Deus infinitamente perfeito entrar em contradição consigo mesmo? É claro que não. E como podemos explicar esta aparente contradição na Bíblia? Isto é muito simples de ser explicado. Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objetivo da imagem é representar um ídolo que vai roubar a adoração devida somente a Deus, ela é abominável. Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma benção.

"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. Farás um querubin na extremidade de uma parte, e outro querubin na extremidade de outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele." (Ex 25,18-19)

"E disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela. E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo." (Nm 21,8-9)

"Este [Ezequias] tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até aquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã."(2Rs 18,4).

Embora a Bíblia mostre claramente em quais casos a confecção das imagens é permitida, os “leitores da bíblia” proíbem o uso das imagens em qualquer caso, desta forma extrapolando indevidamente o mandamento de Deus.



Ajoelhar-se e prostar-se é sempre adoração ou idolatria?

Dizem ainda que nós católicos somos idólatras porque nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos. Esta acusação demonstra uma tremenda ignorância por parte dos protestantes entre o culto de adoração (latria) e o culto de veneração (dulia). A própria Escritura que eles dizem conhecer e seguir dá testemunho da distinção entre as duas coisas.

Ajoelhar-se também é um sinal de reverência e veneração. Os súbitos devem prestar veneração pelos Reis, ou por uma autoridade suprema. O filho pelos pais, os alunos pelos professores e os discípulos pelo mestre. Tudo isso está em conformidade com a ordem estabelecida por Deus. Vejamos alguns exemplos na Sagrada Escritura:

"Pela terceira vez, mandou o rei [Ocozias da Samaria] um chefe com os seus cinqüenta homens, o qual, chegando aonde estava Elias, pôs-se de joelhos e suplicou-lhe, dizendo: Peço-te, ó homem de Deus, que a minha vida tenha algum valor aos teus olhos e a destes cinqüenta homens teus servos " (2Rs 1,13).

Na passagem acima um mensageiro do Rei Ocozias da Samaria põe-se de joelhos diante do Profeta Elias. Por que faz isso? Para suplicar-lhe que permita viver com seus cinqüenta companheiros de viagem, pois antes Elias mandou vir fogo do céu sobre duas equipes anteriores. O ato de súplica não é um ato de adoração, mas de humildade, de rebaixamento, onde se reconhece no outro sua superioridade ou seu poder de atender-lhe um pedido.

Nós católicos quando nos ajoelhamos diante das imagens dos santos e lhe fazemos pedidos, não estamos adorando ídolos, mas dirigindo nossa súplica aos nossos irmãos na fé que representados por suas imagens já se encontram na presença de Deus. O ajoelhar-se do católico aí é um ato de súplica e não de adoração. Com efeito, ensina o Catecismo da Igreja Católica”

956. A intercessão do santos. “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela fraterna solicitude deles, nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (Lumen Gentium 49)

Será que os ex-“católicos” alguma vez leram este parágrafo do Catecismo? Sinceramente, eu duvido... Vejamos outro interessante testemunho da Escritura Sagrada:

"Abraão levantou os olhos e viu três homens de pé diante dele. Levantou-se no mesmo instante da entrada de sua tenda, veio-lhes ao encontro e prostrou-se por terra" (Gn 18,2).

O texto sagrado testemunha que Abraão prostra-se ao ver os três anjos do Senhor. Devemos acusar o Patriarca de idolatria? Obviamente que Abraão não estava adorando os anjos, pois se fosse este o caso eles o teriam repreendido, como fez o anjo que revelava o apocalipse a S. João (cf. Ap 22,8-9). Entretanto, Abraão estava prestando-lhes culto de reverência, reconhecendo a condição superior dos anjos de Deus.

"Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus" (Mt 5,19).

Ora, por acaso não são os santos exatamente aquelas pessoas que venceram na fé e que agora podem ser consideradas grandes no Reino dos Céus como ensinou Nosso Senhor? Cabe ainda lembrar que para o Senhor o menor no Reino do Céu é maior do que qualquer um que esteja vivendo na terra (cf. Mt 11,11).

Embora os atos de veneração e súplica sejam externamente iguais à reverência que se deve somente a Deus, internamente são coisas bem distintas e a própria Escritura Sagrada distingue bem as duas coisas. Mais alguns exemplos interessantes:

"Moisés saiu ao encontro de seu sogro, prostrou-se e beijou-o. Informaram-se mutuamente sobre a sua saúde e entraram na tenda" (Ex 18,7).

"Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele" (1Sm 25,23).

Porém, alguém poderia levantar a seguinte objeção: “mas, os exemplos dados são de pessoas vivas venerando pessoas vivas e não mortas”. Primeiramente, isso não é totalmente verdade já que os anjos do Senhor não podem ser considerados “pessoas vivas”, mas seres espirituais. Em segundo lugar, os santos que estão no céu também são seres espirituais. Em terceiro, a Escritura dá testemunho da veneração do rei Saul ao profeta Samuel já falecido:

"Qual é o seu aspecto? É um ancião, envolto num manto. Saul compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra" (1Sm 28,14).

Mais sobre atos de veneração podem ser encontrados em Gn 23,12; Gn 33,3; Ex 18,7; 1Sm 25,41; 2Sm 9,6; 14,4.

Adorar é reconhecer a divindade e oferecer sacrifício

Deus condena a confecção de ídolos, pois o ídolo leva as pessoas a prestarem a ele o culto que só se deve a Deus: o culto de adoração. Adorar um ato de reconhecimento da divindade e oferecimento de sacrifício.

Os pagãos realmente adoravam seus ídolos, pois lhes reconheciam a divindade e lhes ofereciam sacrifício:

"Habitando os israelitas em Setim, entregaram-se à libertinagem com as filhas de Moab. Estas convidaram o povo aos sacrifícios de seus deuses, e o povo comeu e prostrou-se diante dos seus deuses" (Nm 25,1-2).

"Em vão Acaz tinha despojado o templo do Senhor, o palácio real e os príncipes para fazer presentes ao rei da Assíria. Tudo isso de nada lhe valeu. Embora estivesse angustiado, o rei Acaz continuou seus crimes contra o Senhor. Oferecia sacrifícios aos deuses de Damasco, que o tinham derrotado: São, dizia ele, os deuses dos reis da Síria que lhes vêm em auxílio; oferecer-lhes-ei, portanto, sacrifícios para que me ajudem igualmente. Mas foram a causa de sua queda e de todo o Israel" (2Cr 28,21-23).

No segundo livro dos Reis encontramos o conceito completo de idolatria por meio de sua condenação:

"O Senhor tinha feito com eles uma aliança e lhes tinha dado a seguinte ordem: Não adorareis outros deuses, nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto, e não lhes oferecereis sacrifícios" (2Rs 17,35).

Os pagãos prostravam-se diante de seus ídolos não para reconhecerem neles instrumentos e servos de Deus de condição superior a nossa e que são capazes de interceder por nós junto a Deus, mas crendo que eram deuses verdadeiros e portanto capazes de eles mesmos realizarem milagres.

Em 2Rs 17,35 Deus apresenta a doutrina em sentido negativo. No versículo seguinte encontramos o conceito da verdadeira adoração:

"Mas temei ao Senhor que vos tirou do Egito com o poder de seu braço. A ele temereis, diante dele vos prostrareis e a ele oferecereis os vossos sacrifícios" (2Rs 17,36).

Somente a Deus devemos nos prostrar reconhecendo-lhe a divindade e oferecendo-lhe o sacrifício devido.

Os verdadeiros idólatras de nosso tempo são aqueles que oferecem sacrifício de animais (geralmente galinhas e carneiros) aos seus falsos deuses. Os protestantes não adoram a Deus, apenas o louvam. Seu culto é apenas um culto de louvor e não de adoração. Só no catolicismo se adora a Deus, pois na Santa Missa é oferecido a Deus o cordeiro imaculado que é Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme sua própria prescrição (cf. Mt 14,22-25; Lc 22,17-20; 1Cor 11,23-29).

Deus proíbe o consumo de bebidas alcoólicas? .

Depois do surgimento do Protestantismo histórico (Luteranismo, Presbiterianismo e Anglicanismo), as denominações protestantes que surgiram após, começaram a pregar que consumir bebidas alcoólicas é pecado, pois não agrada a Deus.

Devemos ter sempre em mente que na Revelação de Deus, o certo e o errado não está associado a um objeto em si, mas sim ao uso que fazemos dele. Devemos dispor de todas as coisas criadas (seja pelo homem ou por Deus) para a Glória Dele. Sobre isso São Paulo ensinou que "todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm" (cf. 1 Cor 6,12; ver também 1Cor 10,23).

Desta forma, o consumo de bebidas alcoólicas deve obedecer este mesmo principio. Pretendemos mostrar o que Bíblia ensina sobre esta matéria.

Orientações divinas sobre uso de bebidas fermentadas na liturgia e na vida dos judeus

Talvez a primeira orientação que encontramos na Bíblia sobre o uso de bebidas fermentadas seja no livro de Números, onde lemos: "O Senhor disse a Moisés: Dirás aos israelitas o seguinte: quando um homem ou uma mulher fizer o voto de nazireu [nazareno], separando-se para se consagrar ao Senhor, abster-se-á de vinho e de bebida inebriante: não beberá vinagre de vinho, nem vinagre de uma outra bebida inebriante; não beberá suco de uva, não comerá nem uvas frescas, nem uvas secas" (grifos meus) (Num 6,1-3). Aqui está claro que o vinho que o narizeu deverá se abster é o vinho fermentado ou "outra bebida inebriante".

Aqui Deus ordena que aqueles que fizerem votos de narizeu deverão se abster de vinho ou de qualquer "outra bebida inebriante". Entretanto, em determinada situação, o consumo de "bebida inebriante" é permitida a estas pessoas, conforme lemos: "O sacerdote os agitará diante do Senhor: é uma coisa santa que pertence ao sacerdote, como também o peito agitado e a coxa oferecida. Somente depois disso o nazireu poderá beber vinho" (Num 6,20).

Ora se o consumo de vinho fermentado ou "outra bebida inebriante" fosse proibida por Deus, Ele não daria uma ordem a Moisés permitindo este consumo ao narizeu já consagrado.

No livro do Profeta Ezequiel há uma outra restrição do Senhor quanto a vinho: "Nenhum sacerdote beberá vinho quando tiver de penetrar no átrio interior" (Ez 44,21; ver também Lv 10,9 e Deut 29,6). Esta proibição é da mesma natureza da que encontramos em Num 6,1-3. Há momento em que aqueles que foram consagrados ou trabalham no serviço ao Senhor, devem se abster dos prazeres da vida, para que melhor prepararem seu espírito para Deus. Entretanto, esta restrição é momentânea, ocasional e não eterna. Da mesma forma que o Senhor manda os sacerdotes se absterem de vinho para penetrar no átrio interior (lugar conhecido como Santo dos Santos, onde Deus estava presente). Quando Deus proíbe o consumo de vinho e ou o permite, estabelece sempre uma relação com as coisas boas da vida, as quais o usufruto deve estar orientado para a Sua Glória.

Esta divina relação é demonstrada também de outra forma, por exemplo, quando o usufruto das coisas materiais nos é concedido como recompensa do nosso trabalho. Vejamos: "Comprarás ali com esse dinheiro tudo o que te aprouver, bois, ovelhas, vinho, bebidas fermentadas, tudo o que desejares, e comerás tudo isso em presença do Senhor, teu Deus, alegrando-te com tua família" (grifos meus) (Deut 14,26). Ver também Salmo 103,14-15; Is 62,9.

A dignidade do vinho fermentado sempre foi algo tão evidente, que seu uso foi autorizado pelo próprio Deus no trabalho dos sacerdotes no templo, na execução dos sacrifícios, vejamos: "A libação será de um quarto de hin para cada cordeiro; é no santuário que farás ao Senhor a libação [sacrifício] de vinho fermentado" (grifos meus) (Num 28,7).

Em Daniel 5, o Rei Baltazar manda pegar o vinho que está no templo para uma festa. A Sagrada Escritura testemunha que todos já estavam bêbados quando o Rei dá esta ordem. É claro que o objetivo era continuar a farra; e o pedido do Rei não faria sentido se o vinho que estivesse sendo usado no templo não fosse fermentado. E como já vimos em Num 28,7, por uma ordenança divina, o vinho era mesmo fermentado.

A questão da Embriaguez

A embriaguez é uma alteração do estado de consciência devido a um aumento do volume de álcool no sangue, remetendo a um aumento do volume de álcool no cérebro (causa da embriaguez).

A primeira referência que encontramos na Bíblia sobre a embriaguez está em Gn 9,21 onde lemos: "[Noé] Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda". Nota-se aqui que o vinho que Noé bebeu era vinho fermentado, caso contrário não teria se embriagado.

Interessante notar que a embriaguez de Noé não é condenada na Sagrada Escritura, ao contrário da atitude de seu filho Cam que é amaldiçoado por expor a nudez de seu pai aos seus irmãos (cf. Gn 9,22-26).

A embriaguez de Ló também não é reprovada, embora tenha sido planejada por suas filhas para que pudessem manter relações sexuais com seu pai (cf. Gn 19,33-34). Nem mesmo a atitude delas é reprovada, já que suas intenções não eram praticar pederastia com o pai, mas unicamente garantir-lhes uma posteridade; já tendo em vista a destruição da cidade onde moravam (cf. Gn 19,29), se estabeleceram em Segor (cf. Gn 19,30). Ló já era velho e na região não havia varões que pudessem coabitar com as moças (cf. Gn 19,31).

Esta alteração da consciência (embriaguez) causada por "bebida inebriante" ou fermentada, é mencionada na Sagrada Escritura como uma "alegria". Vejamos alguns exemplos:

"No sétimo dia, o rei cujo coração estava alegre pelo vinho, ordenou a Mauman, Bazata, Harbona, Bagata, Abgata, Zetar e Carcar - os sete eunucos a serviço, junto de Assuero" (grifos meus) (Ester 1,10).

"Fazeis brotar a relva para o gado, e plantas úteis ao homem, para que da terra possa extrair o pão e o vinho que alegra o coração do homem, o óleo que lhe faz brilhar o rosto e o pão que lhe sustenta as forças" (grifos meus) (Salmo 103,14-15).

"Faz-se festa para se divertir; o vinho alegra a vida, e o dinheiro serve para tudo" (Ecl 10,19).

"Ora, Absalão dera aos seus criados a ordem seguinte: Ouvi! Quando Amnon tiver o coração alegre por causa do vinho, e eu vos disser: Feri Amnon!, então vós o matareis; não tenhais medo, porque sou eu quem vo-lo ordena. Coragem, e sede homens fortes!" (grifos meus) (2 Sam 13,28).

"Arrasta-me após ti; corramos! O rei introduziu-me nos seus aposentos. Exultaremos de alegria e de júbilo em ti. Tuas carícias nos inebriarão mais que o vinho. Quanta razão há de te amar!" (grifos meus) (Ct 1,4).

Se que alguém está pensando que a Sagrada Escritura incentiva a embriaguez, devo dizer que está redondamente enganado. A embriaguez que "alegra" o coração (no dizer das Sagradas Letras) não deve ser confundida com àquela que fomenta a desgraça. A primeira é resultado de um consumo ordenado e moderado, enquanto a segunda é resultado do excesso da liberdade que Deus nos concedeu. A primeira não é pecado, enquanto a segunda sim. Vejamos:

"Não é um pouco de vinho suficiente para um homem bem-educado? Assim não terás sono pesado, e não sentirás dor" (Eclo 31,22).

"O vinho bebido sobriamente é como uma vida para os homens. Se o beberes moderadamente, serás sóbrio" (Eclo 31,32).

"O vinho, bebido moderadamente, é a alegria da alma e do coração" (Eclo 31,36).

O consumo de bebida fermentada, que não seja para a "alegria" do coração, é fortemente condenada na Sagrada Escritura, vejamos:

"Mas também estes titubeiam sob o efeito do vinho, alucinados pela bebida; sacerdotes e profetas cambaleiam na bebedeira. Estão afogados no vinho, desnorteados pela bebida, perturbados em sua visão, vacilando em seus juízos" (Is 28,7).

Interessante passagem do Profeta Isaías. Se o consumo de vinho fermentado fosse proibido por Deus (e já vimos que não é o caso), jamais os "sacerdotes e profetas" cambaleariam "na bebedeira", pois nem sequer o experimentariam. No entanto, o abuso da liberdade que Deus nos concede é o berço de grandes males (cf. Is 5,12; Is 5,22; Eclo 19,2; Eclo 31,30; Prov 31).

"Pasmai-vos e maravilhai-vos, obstinai-vos, feridos de cegueira, embriagai-vos, mas não de vinho, cambaleai, mas não por causa da bebida" (Is 29,9).

"Ai daqueles que desde a manhã procuram a bebida, e que se retardam à noite nas excitações do vinho!" (Is 5,11).

"O operário dado ao vinho não se enriquecerá, e aquele que se descuida das pequenas coisas, cairá pouco a pouco" (Eclo 19,1).

"Zombeteiro é o vinho e amotinadora a cerveja: quem quer que se apegue a isto não será sábio" (Prov 20,1).

"O que ama os banquetes será um homem indigente; o que ama o vinho e o óleo não se enriquecerá" (Prov 21,17).

Que tipo de vinho foi usado por Jesus e os Apóstolos?

Na Sagrada Escritura várias palavras são utilizadas para fazer referência ao vinho, cada uma refere-se a um tipo de vinho diferente (seja no grego ou no hebraico).

A primeira classe de vinho refere-se um vinho mais forte. As palavras "sikera" (grego, cf. Lc 1,15) e "shêkar" (hebraico, cf. Prov 20,1; Is 5,1) referem-se a isto, e normalmente são traduzidas por "sidra" ou "bebida forte", devido ao elevado teor alcoólico que este tipo de vinho possuía.

A segunda classe refere-se a um vinho novo mais adocicado. Palavras como "gleukos" (grego) e "tirôsh" (hebraico, cf. Prov 3,10; Os 9,2; Jl 1,10), aludem a este tipo de vinho. Em At 2,13 os Apóstolos foram acusados de estarem embriagados dele, por causa da ação do Espírito Santo sobre eles.

A terceira classe é mencionada com maior freqüência tanto no AT quanto no NT. A palavra hebraica para este vinho é "yayin", que tem em sua raiz o significado de borbulhar, espumar ou ferver. A palavra referente no grego é "oinos", que em seu sentido mais geral refere-se simplesmente ao suco de uva.

Normalmente a literatura judaica indica que o "yayin" é um vinho misturado. Normalmente é referenciado como um xarope grosso (produzido através do suco de uva fervido) misturado com água (cf. Sl 75,8; Prov 23,30), de baixo teor alcoólico. Embora em menor freqüência, pode também corresponder a um licor obtido pela fermentação.

A Mishná Judaica que é a antiga coleção escrita de interpretações orais da lei mosaica e antecederam o Talmud, declara que os judeus utilizavam com certa regularidade o vinho fervido, ou seja, o suco de uva reduzido a uma consistência grossa mediante a ação do calor. Esta descrição corresponde à terceira classe de vinho.

A palavra grega "oinos" portanto pode fazer referência tanto ao suco de uva, quanto ao vinho de baixo teor alcoólico.

Algumas pessoas afirmam que o vinho resultado do milagre de Jesus nas bodas de Cana da Galiléia não era alcoólico ("oinos" como suco de uva). Este tipo de afirmação fundamenta-se na doutrina humana de que Deus proíbe o consumo de bebidas alcoólicas. De qualquer forma o milagre da transformação da água em vinho merece uma análise mais profunda.

Conforme vimos, o vinho fermentado era usado no templo para o oferecimento do sacrifício a Deus (cf. Num 28,7), seu consumo era tido como um prêmio resultado do trabalho (cf. Deut 14,26). Por esta razão, era tido em alta estima entre o povo Judeu, onde seu uso foi estendido às celebrações festivas, sejam religiosas ou não (cf. v. Unger's Bible Dictionary, verbete "Lord's Supper").

Jesus e Sua Santa Mãe estavam em uma festa de casamento onde tradicionalmente o vinho servido aos convidados era alcoólico. Isso pode ser atestado pela declaração do mestre de cerimônia quando provou o vinho que Jesus fez: "É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom" (grifos meus) (cf. Jo 2,10). Ora, ele fala mais que claramente que "é costume servir primeiro o vinho bom"; vinho este que se não fosse fermentado não deixaria os convidados "quase embriagados".

Se o vinho que foi servido primeiramente aos convidados não fosse alcoólico, por que o mestre de cerimônia faria tal declaração? Ele se espanta exatamente porque o vinho melhor (o vinho resultado do milagre de Cristo), foi servido quando todos já estavam "quase embriagados", quando o costume era exatamente o contrário. Por isso ele depois de provar o vinho milagroso, se dirige a Jesus dizendo: "É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora" (Jo 2:10).

Isto nos remete a confirmar que o vinho que Cristo fez também era alcoólico, pois não faria nenhum sentido Ele utilizar um tipo de vinho diferente do que era comumente usado. Não só isso, mas com toda certeza, Cristo desejou o melhor para aquele casal, cujas bodas estavam sendo realizadas. E assim providenciou um vinho excelente, um vinho conforme àquele que era usado no templo em honra Dele, um vinho com álcool (cf. Num 28,7).

A primeira carta de São Paulo a Timóteo dá testemunho que o "oinos" usado entre os Judeus era alcoólico. A expressão "dado ao vinho" em 1 Tm 3,3 é a tradução da palavra grega "paroinos" cujo significado literal é "colocar-se ao lado do vinho", aludindo a prática de ficar bebendo o dia inteiro. São Paulo recomenda que quem for escolhido para tomar lugar no Ministério de Deus, não seja um beberrão, fazendo assim um uso não permitido do vinho. A passagem só faz sentido se o vinho for alcoólico. Ver também Tt 1,7.

Não só o presbítero deve consumir o vinho com sabedoria, mas também o leigo. Por isto o Apóstolo Paulo ensina aos Efésios: "Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus. Não vos embriagueis com vinho, que é uma fonte de devassidão, mas enchei-vos do Espírito" (Ef 5,17-18).

Na Carta aos Efésios, São Paulo pede que as pessoas não se embriaguem (cf. Ef. 5,18). Provavelmente ele estava ser referindo à celebração da "Ceia do Senhor", devido às recomendações que são dadas exatamente no versículo seguinte: "Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos espirituais. Cantai e celebrai de todo o coração os louvores do Senhor" (cf. Ef. 5,19). Tal exortação não faria o menor sentido se o vinho usado nas celebrações cristãs não fosse alcoólico.

Os Cristãos até os tempos do Protestantismo histórico sempre celebraram a "Ceia do Senhor" com vinho alcoólico, costume herdado da era apostólica. Luteranos, Presbiterianos e Anglicanos até hoje utilizam vinho fermentado em suas celebrações.

Conclusão
Jesus condenou com veemência a prática de se anular a doutrina de Deus pela doutrina dos homens (cf. Mc 7,5-8).

Esta prática é conhecida como "cerca em torno da lei", isto é, substitui-se um ensinamento divino por um humano mais severo, que tem com objetivo evitar que as pessoas pequem. Um exemplo da instituição do homem em detrimento de uma divina, por parte dos Fariseus, é denunciada por Jesus em Mc 7,9-13.

Aqueles que adoram citar Mc 7,5-8 contra a Igreja Católica, além de não discernirem a diferença entre as Tradições que vem de Deus (com "T" maiúsculo, cuja observação é recomendada pelo Apóstolo Paulo em 2 Tes 2,15) e as tradições que vem dos homens (com "t" minúsculo), acabam tornando-se piores que os Fariseus, pelo fato de que estes nem sequer ousaram proibir o consumo de álcool ao povo.

A doutrina da proibição de consumo de bebidas alcoólicas não é divina, mas humana. São Paulo nos ensinou: "Estai de sobreaviso, para que ninguém vos engane com filosofias e vãos sofismas baseados nas tradições humanas, nos rudimentos do mundo, em vez de se apoiar em Cristo" (Col 2,8). Ainda sobre a pena de São Paulo aprendemos que "Para os puros todas as coisas são puras. Para os corruptos e descrentes nada é puro: até a sua mente e consciência são corrompidas" (Tito 1,15).

O consumo de bebidas alcoólicas não é proibido ao cristão, entretanto este deve sempre ter em mente estas duas regras: "No princípio o vinho foi criado para a alegria não para a embriaguez" (Eclo 31,35) e "O vinho, bebido em demasia, é a aflição da alma" (Eclo 31,39).