sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Eis aí a tua mãe

1. Depois de ter confiado João a Maria com as palavras: ´Mulher, eis aí o teu filho!´, Jesus, do alto da cruz, dirige´se ao discípulo predileto, dizendo´lhe: ´Eis aí a tua Mãe!´ (Jo. 19, 26´27). Com esta expressão, Ele revela a Maria o vértice da sua maternidade: enquanto Mãe do Salvador, Ela é a mãe também dos remidos, de todos os membros do Corpo Místico do Filho.

A Virgem acolhe no silêncio a elevação a este máximo grau da sua maternidade de graça, tendo já dado uma resposta de fé com o seu ´sim´ na Anunciação.

Jesus não só recomenda a João que cuide de Maria com particular amor, mas confia´lhe para que a reconheça como a própria mãe.

Durante a última Ceia, ´o discípulo a quem Jesus amava´ escutou o mandamento do Mestre: ´Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei´ (Jo. 15, 12) e, reclinando a cabeça no peito do Senhor, recebeu d’Ele um singular sinal de amor. Essas experiências prepararam´no para perceber melhor, nas palavras de Jesus, o convite a acolher Aquela que lhe é dada como mãe e a amá´la como Ele com ardor filial.

Oxalá todos descubram nas palavras de Jesus: ´Eis aí a tua Mãe!´, o convite a aceitar Maria como mãe, respondendo como verdadeiros filhos ao seu amor materno.

2. À luz dessa entrega ao discípulo predileto, pode´se compreender o sentido autêntico do culto mariano na comunidade eclesial. Este, de fato, põe os cristãos na relação filial de Jesus com a Sua mãe, colocando´os na condição de crescerem na intimidade com ambos.

O culto que a Igreja presta à Virgem não é apenas fruto duma iniciativa espontânea dos crentes, diante do valor excepcional da sua pessoa e da importância do seu papel na obra da salvação, mas baseia´se na vontade de Cristo.

As palavras ´Eis aí a tua mãe!´ exprimem a intenção de Jesus de suscitar nos discípulos uma atitude de amor e confiança para com Maria, conduzindo´os a reconhecer n’Ela a própria mãe, a mãe de todos os crentes.

Na escola da Virgem os discípulos aprendem, como João, a conhecer profundamente o Senhor e a realizar uma íntima e perseverante relação de amor com Ele. Descobrem, além disso, a alegria de se confiarem ao amor materno da Mãe, vivendo como filhos afetuosos e dóceis.

A história da piedade cristã ensina que Maria é a via que leva a Cristo, e que a devoção filial para com Ela nada tira à intimidade com Jesus, antes, a aumenta e a conduz a altíssimos níveis de perfeição.

Os inúmeros santuários marianos espalhados pelo mundo estão a testemunhar as maravilhas operadas pela Graça, por intercessão de Maria, mãe do Senhor e nossa mãe.

Recorrendo a Ela, atraídos pela sua ternura, também os homens e as mulheres do nosso tempo encontram Jesus, Salvador e Senhor da vida deles.

Sobretudo os pobres, provados no íntimo, nos afetos e nos bens, ao encontrarem refúgio e paz junto da Mãe de Deus, redescobrem que a verdadeira riqueza consiste para todos na graça da conversão e do seguimento de Cristo.

3. O texto evangélico, segundo o original grego, prossegue: ´Desde aquela hora o discípulo acolheu´a entre os seus bens´ (Jo. 19, 27) pondo, assim, em realce a pronta e generosa adesão de João às palavras de Jesus e informando´nos acerca do comportamento, por ele mantido durante a vida toda, como fiel guardião e dócil filho da Virgem.

A hora do acolhimento é a da realização da obra de salvação. Precisamente nesse contexto, têm início a maternidade espiritual de Maria e a primeira manifestação do novo ligame entre Ela e os discípulos do Senhor.

João acolheu a Mãe ´entre os seus bens´. Esta expressão bastante genérica parece evidenciar a sua iniciativa, cheia de respeito e de amor, não só de hospedar Maria em sua casa, mas sobretudo de viver a vida espiritual em comunhão com Ela. Com efeito, a expressão grega, literalmente traduzida ´entre os seus bens´, não indica tanto os bens materiais pois João ´ como observa Santo Agostinho (In loan. Evang. tract. 119, 3) ´ ´não possuía nada´, quanto os bens espirituais ou dons recebidos de Cristo: a graça (Jo. 1, 16), a Palavra (Jo. 12, 48; 17, 8), o Espírito (Jo. 7, 39; 14, 17), a Eucaristia (Jo. 6, 32´58)... Entre estes dons, que lhe derivam do fato de ser amado por Jesus, o discípulo acolhe Maria como mãe, estabelecendo com Ela uma profunda comunhão de vida (cf. RM, 45, nota 130). Possa cada cristão, a exemplo do discípulo predileto, ´receber Maria em sua casa´, dar´lhe espaço na própria existência quotidiana, reconhecendo o seu papel providencial no caminho da salvação.

* L´Osservatore Romano, ed. port. n.19, 10/05/1997, pag. 12(216)

DO Livro: A VIRGEM MARIA ´ 58 CATEQUESES DO PAPA JOÃO PAULO II

A Rainha do Universo


1. A devoção popular invoca Maria como Rainha. O Concílio, depois de ter recordado a assunção da Virgem ´à glória celeste em corpo e alma´, explica que Ela foi ´exaltada por Deus como Rainha do universo para assim se conformar mais plenamente com seu FiIho, Senhor dos senhores (cf. Ap 19, 16) e vencedor do pecado e da morte´ (LG, 59). Com efeito, a partir do século V, quase no mesmo período em que o Concílio de Éfeso a proclama ´Mãe de Deus´, começa´se a atribuir a Maria o título de Raínha. O povo cristão, com esse ulterior reconhecimento da sua excelsa dignidade, quer colocá´la acima de todas as criaturas, exaltando a sua função e importância na vida de cada pessoa individualmente e do mundo inteiro. Mas já num fragmento de homilia, atribuído a Origines, aparece este comentário às palavras pronunciadas por Isabel na Visitação: ´Eu é que deveria vir a ti, porque és bendita acima de todas as mulheres, tu, a Mãe do meu Senhor, tu, minha Senhora´ (Fragmenta, PG 13, 1902 D). Neste texto, passa´se espontaneamente da expressão ´a Mãe do meu Senhor´, ao apelativo ´minha Senhora´, antecipando quanto declarará mais tarde São João Damasceno, que atribui a Maria o título de ´Soberana´: ´Quando se tornou Mãe do Criador, tornou´se verdadeiramente a soberana de todas as criaturas´ (De fide orthodoxa, 4, 14, PG 94, 1157).

2. O meu Venerado Predecessor Pio XII, na Encíclica Ad coeli Reginam, à qual faz referência o texto da Constituição Lumen gentium, indica como fundamento da realeza de Maria além da maternidade, a cooperação na obra da redenção. A Encíclica recorda o texto litúrgico: ´Santa Maria, Rainha do céu e Soberana do mundo, participava no sofrimento, junto da Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo´ (AAS 46 [1954] 634). Ela estabelece depois uma analogia entre Maria e Cristo, a qual nos ajuda a compreender o significado da realeza da Virgem: Cristo é rei não só porque é Filho de Deus, mas também porque é redentor; Maria é rainha não só porque é Mãe de Deus, mas também porque, associa´a como nova Eva ao novo Adão, cooperou na obra da redenção do gênero humano´ (AAS 46 [1954] 635). No Evangelho de Marcos lemos que no dia da Ascensão o Senhor Jesus ´foi arrebatado para Deus´ (16, 19). Na linguagem bíblica, ´sentar´se à direita de Deus´ significa compartilhar o Seu poder soberano. Ao sentar´Se ´à direita do Pai´, Ele instaura o Seu reino, o Reino de Deus. Elevada ao Céu, Maria é associada ao poder de seu Filho e dedica´se à extensão do Reino, participando na difusão da graça divina no mundo. Olhando para a analogia entre a Ascensão de Cristo e a Assunção de Maria, podemos concluir que, em dependência de Cristo, Maria é a raínha que possui e exerce sobre o universo uma soberania, que lhe foi dada pelo seu próprio Filho.

3. O título de Rainha não substitui certamente o de Mãe: a sua realeza permanece um corolário da sua peculiar missão materna, e exprime simplesmente o poder que lhe foi conferido para exercer essa missão. Ao citar a Bula Inefabilis Deus, de Pio IX, o sumo Pontífice põe em evidência esta dimensão materna da realeza da Virgem: ´Tendo por nós um afeto materno e assumindo os interesses da nossa salvação, Ela estende ao gênero humano inteiro a sua solicitude. Estabelecida pelo Senhor como Rainha do céu e da terra, elevada acima de todos os coros dos Anjos e de toda a hierarquia celeste dos Santos, ao sentar´se à direita do seu único Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, Ela obtém como grande certeza aquilo que pede com as suas súplicas maternas; aquilo que procura, encontra´o e não lhe pode faltar´ (AAS 46 [1954] 636´637).

4. Os cristãos olham, portanto, com confiança para Maria Rainha, e isto não só diminui, mas antes exalta o seu abandono filial naquela que é mãe na ordem da graça. Antes, a solicitude de Maria Rainha pelos homens pode ser eficaz de maneira plena, precisamente em virtude do estado glorioso consequente da Assunção. Bem o põe em evidência São Germano de Constantinopla, o qual pensa que esse estado assegura a íntima relação de Maria com seu Filho e torna possível a sua intercessão em nosso favor. Ele acrescenta, ao dirigir´se a Maria; Cristo quis ´ter, por assim dizer, a proximidade dos teus lábios e do teu coração; desta maneira Ele atende a todos os desejos que Lhe exprimes, quando sofres pelos teus filhos, e Ele realiza, com o Seu poder divino, tudo o que Lhe pedes´ (Hom. 1, PG 98, 348). 5. Pode´se concluir que a Assunção favorece a plena comunhão de Maria não só com Cristo, mas com cada um de nós; Ela está ao nosso lado, porque o seu estado glorioso lhe permite acompanhar´nos no nosso itinerário terreno diário. Como lemos ainda em São Germano: ´Tu habitas espiritualmente conosco e a grandeza da tua vigilância sobre nós faz ressaltar a tua comunidade de vida conosco´ (Hom. 1, PG 98, 344). Longe, portanto, de criar distância entre nós e Ela, o estado glorioso de Maria suscita uma aproximação contínua e solícita. Ela conhece tudo o que acontece na nossa existência e sustenta´nos com amor materno nas provas da vida. Elevada à glória celeste, Maria dedica´se totalmente à obra da salvação, para comunicar a cada vivente a felicidade que lhe foi concedida. É uma Rainha que dá tudo aquilo que possui, comunicando sobretudo a vida e o amor de Cristo.

Eis o mistério da fé


Essas palavras que o sacerdote pronuncia logo após a consagração do pão e do vinho, resumem toda a essência da santa Missa. Ela é a celebração do mistério da fé, o ápice de toda devoção cristã. Quem não entendeu o sentido profundo da Missa ainda não compreendeu o sentido profundo do cristianismo e da salvação que Jesus veio trazer aos homens.

A maioria dos batizados não gosta de participar da Missa.

Para uns ela é apenas uma longa cerimônia; para outros, um hábito sociológico, "um peso necessário", uma obrigação de consciência ou apenas um exercício de piedade. Uns não gostam da Missa porque não gostam do padre que a celebra; outros, porque não gostam do sermão, ou porque a música não está boa, etc. E, assim, ficam apenas no acessório e se esquecem do Essencial.

A Missa é a celebração máxima da fé, porque nela o "mesmo" Sacrifício de Cristo no Calvário se faz presente, se "atualiza", para que cada um de nós, pessoalmente, e em comunidade, possa em adoração, oferecer o Cristo ao Pai, pela salvação da humanidade.

A Liturgia reza que quando celebramos a Paixão do Senhor sobre o altar, "torna-se presente a nossa redenção".

Deus, que na Sua misericórdia tinha muitas maneiras de restaurar a humanidade, escolheu esse meio de salvação para destruir a obra do demônio; não recorreu a Seu poder, mas à Sua justiça. Era justo que o demônio só perdesse seu domínio original sobre a humanidade sendo vencido no mesmo terreno onde venceu o homem. Cristo o venceu como homem, com a sua morte e ressurreição; destruindo a morte e a dominação do demônio sobre a humanidade.

É isto que celebramos na Missa; a Vítima Santa se torna presente sobre o altar, agora de maneira incruenta, para salvar, hoje, a humanidade.

Cristo mais uma vez oferece ao Pai o seu Sacrifício perfeito. E a redenção é aplicada a cada um de nós que comunga o Corpo imolado e ressuscitado de Jesus.

Carregando em Si todos os pecados dos homens, de todos os tempos e de todos os lugares, Jesus ofereceu ao Pai um Sacrifício perfeito. O Pai aceitou essa oblação do Filho amado e, pela ressurreição, garantiu o Seu perdão à humanidade pecadora.

Por Jesus ressuscitado, a humanidade volta a Deus e caminha para a sua ressurreição. Jesus ressuscitado é a garantia do triunfo dos que n'Ele crêem.

Por Ele todas as criaturas voltam redimidas para Deus, na Sua oblação que se faz perpétua através da santa Missa.

No santo Sacrifício, o Calvário (o mesmo) se faz novamente presente. As ações de Jesus não se perdem no tempo, porque Ele é Deus, são teândricas; isto é, humanas e divinas.

O pão e o vinho oferecidos representam todo o universo e toda a humanidade que Cristo oferece ao Pai com todas as suas chagas, trabalhos e dores. Ali depositamos também a nossa vida e o nosso ser oferecendo-os também a Deus para fazer a Sua vontade.

Na consagração do pão e do vinho, Jesus - pelos lábios do sacerdote (qualquer que seja ele) - transforma a matéria no Seu Corpo e Sangue.

Pela celebração da santa Missa, o mundo volta reconciliado para Deus e somos salvos. Ali, cada batizado, cada membro da Igreja, oferece a Deus Pai o Sacrifício perfeito de Seu Filho Jesus. Por isso, não há oferta mais agradável a Deus; não há oração mais completa em mais eficaz.

A Missa é o centro da fé, é o cerne do Cristianismo, é o coração da Igreja, é o centro do universo.

Nela o Senhor nos dá a comungar o Seu Corpo e Sangue. Ele vem morar em nós para ser nosso Alimento e Remédio.

Ele vem a nós para ser o alimento da caminhada, a força contra o pecado, e para transformar nossa vida de homem em vida de filho de Deus.

Pela Eucaristia, Cristo vem para em nós viver e amar os outros e para fazer de nós Seus discípulos e transformadores do mundo pela Sua presença e graça. Quando comungamos, nós nos tornamos, de fato, membros do Corpo de Cristo, unidos a todos os irmãos do céu e da terra. E' a redenção do mundo! Nunca compreenderemos totalmente a magnitude da santa Missa... Ela é a fonte de onde nos vem a salvação. Por ela, a cada dia, Cristo salva a humanidade.

Quando entendermos bem o significado da missa, a conseqüência imediata será o desejo de participar dela todos os dias...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Por que não sou protestante?

D. ESTEVÃO BETTENCOURT

São sete as razões principais pelas quais não sou protestante:

1. Somente a Bíblia...

Os protestantes afirmam que seguem a Bíblia como norma de fé. Acontece, porém, que a Bíblia utilizada por todos os protestantes é uma só; em português, vem a ser a tradução de Ferreira de Almeida. Por que então não concordam entre si no tocante a pontos importantes (ver nº 2 adiante)? E por que não constituem uma só comunidade cristã, em vez de serem centenas e centenas de denominações separadas (e até hostis) entre si?

A razão disto é que, além da Bíblia, seguem outra fonte de fé e disciplina... fonte esta que explica as divergências do Protestantismo.

Tal fonte, chamamo/la Tradição oral; é esta que dá vida e atualidade à letra do texto. A tradição oral do Catolicismo começa com Cristo e os Apóstolos, ao passo que as tradições orais dos protestantes começam com Lutero (1517), Calvino (1541), Knox (1567), Wesley (1739), Joseph Smith (1830)...

Entre Cristo e os Apóstolos, de um lado, e os fundadores humanos das denominações protestantes, do outro lado, não há como hesitar: só se pode optar pelos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos, deixando de lado os ´´profetas´´ posteriores.

Notemos que o próprio texto da Bíblia recomenda a Tradição oral, ou seja, a Palavra de Deus que não foi consignada na Bíblia e que deve ser respeitada como norma de fé. Os autores sagrados não tiveram, em vista expor todos os ensinamentos de Jesus, como eles mesmos dizem:

´´Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se teriam de escrever´´ (Jo 21,25, cf. 1 Ts 2,15).

´´Muitos outros prodígios fez ainda Jesus na presença dos discípulos, os quais não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome´´ (Jo 20,30s).

São Paulo, por sua vez, recomenda os ensinamentos que de viva voz nos foram transmitidos por Jesus e passam de geração a geração no seio da Igreja, sem estarem escritos na Bíblia:

´´Sei em quem acreditei.. Toma por norma as sãs palavras que ouviste de mim na fé e no amor do Cristo Jesus. Guarda o bom depósito com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós´´ (2Tm 1, 12/14).

Neste texto vê/se que o depósito é a doutrina que São Paulo fez ouvir a Timóteo, e que Paulo, por sua vez, recebeu de Cristo. Tal é a linha pela qual passa o depósito:

Cristo /> Paulo /> Timóteo

A linha continua... conforme 2Tm 2,2:

´´O que ouviste de mim em presença de muitas testemunhas, confia/o a homens fiéis, que sejam capazes de o ensinar ainda a outros´´.

Temos então a seguinte sucessão de portadores e transmissores da Palavra:

O Pai /> Cristo /> Paulo (Os Apóstolos) /> Timóteo (Os Discípulos imediatos dos Apóstolos) /> Os Fiéis /> Os outros Fiéis

Desta forma a Escritura mesma atesta a existência de autênticas proposições de Cristo a ser transmitidas por via meramente oral de geração a geração, sem que os cristãos tenham o direito de as menosprezar ou retocar. A Igreja é a guardiã fiel dessa Palavra de Deus oral e escrita.

Dirão: mas tudo o que é humano se deteriora e estraga. Por isto a Igreja deve ter deteriorado e deturpado a palavra de Deus; quem garante que esta ficou intacta através de vinte séculos na Igreja Católica?

Quem o garante é o próprio Cristo, que prometeu sua assistência infalível a Pedro e as luzes do Espírito Santo a todos os seus Apóstolos ou à sua Igreja; ver Mt 16, 16/18; Lc 22,31s; Jo 21,15/17; Jo 14, 26; 16,13/15.

Não teria sentido o sacrifício de Cristo na Cruz se a mensagem pregada por Jesus fosse entregue ao léu ou às opiniões subjetivas dos homens, sem garantia de fidelidade através dos séculos. Jesus não pode ter deixado de instituir o magistério da sua Igreja com garantia de inerrância.

2. Contradições

0 fato de que não seguem somente a Bíblia, explica as contradições do Protestantismo:

Algumas denominações batizam crianças; outras não as batizam;

Algumas observam o domingo; outras, o sábado;

Algumas têm bispos; outras não os têm;

Algumas têm hierarquia; outras entregam o governo da comunidade à própria congregação (congregacionalistas);

Algumas fazem cálculos precisos para definir a data do fim do mundo / o que para elas é essencial. Outras não se preocupam com isto.

Vê/se assim que a Mensagem Bíblica é relida e reinterpretada diversamente pelos diversos fundadores dos ramos protestantes, que desta maneira dão origem a tradições diferentes e decisivas.

Ademais, todos os protestantes dizem que a Bíblia contém 39 livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, baseando/se não na Bíblia mesma (que não define o seu catálogo), mas unicamente na Tradição oral dos judeus de Jâmnia reunidos em Sínodo no ano 100 d.C.;

Todos os protestantes afirmam que tais livros são inspirados por Deus, baseando/se não na Bíblia (que não o diz), mas unicamente na Tradição oral.

Onde está, pois, a coerência dos protestantes?

Pelo seu modo de proceder, afirmam o que negam com os lábios; reconhecem que a Bíblia não basta como fonte de fé. É a Tradição oral que entrega e credencia a Bíblia.

3. Afinal a Bíblia... Sim ou Não?

Há passagens da Bíblia que os fundadores do Protestantismo no século XVI não aceitaram como tais; por isto são desviadas do seu destino original muito evidente:

1. A Eucaristia... Jesus disse claramente: ´´Isto é o meu corpo´´ (Mt 26,26) e ´´Isto é o meu sangue´´ (Mt 26,28).

Em Jo 6,51 Jesus também afirma: ´´O pão que eu darei, é a minha carne para o mundo´´. Aos judeus que zombavam, o Senhor tornou a afirmar: ´´Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha came é verdadeiramente uma comida e o meu sangue verdadeíramente uma bebida´´.

Apesar disto, os protestantes não aceitam o sacramento do perdão e da reconciliação! (Jo 21,17).

Se assim é, por que é que ´´os seguidores da Bíblia´´ não aceitam a real presença de Cristo no pão e no vinho consagrados?

2. Jesus disse ao Apóstolo Pedro: ´´Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta Pedra (Kepha) edificarei a minha Igreja´´ (Mt 16,18).

Disse mais a Pedro: ´´Simão, Simão... eu roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E tu, voltando/te, confirma teus irmãos´´ (Lc 22,31s).

Ainda a Pedro: ´´Apascenta as minhas ovelhas´´ (Jo 21,15).

Apesar de tão explícitas palavras de Jesus, os protestantes não reconhecem o primado de Pedro! Por que será?

3. Jesus entregou aos Apóstolos a faculdade de perdoar ou não perdoar os pecados / o que supõe a confissão dos mesmos para que o ministro possa discernir e agir em nome de Jesus:

´´Recebei o Espiríto Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser/lhes/ão perdoados; àqueles a quem não os perdoardes, não serão perdoados´´ (Jo 20,22s).

4. Jesus disse que edificaria a sua Igreja (´´a minha Igreja´´, Mt 16,18) sobre Pedro. As denominações protestantes são constituídas sobre Lutero, Calvino, Knox, Wesley... Antes desses fundadores, que são dos séculos XVI e seguintes, não existia o Luteranismo, o Calvinismo (presbiterianismo), o Metodismo, o Mormonismo, o Adventismo... Entre Cristo e estas denominações há um hiato... Somente a Igreja Católica remonta até Cristo.

5. 0 Apóstolo São Paulo, referindo/se ao seu elevado entendimento da mensagem cristã, recomenda a vida una ou indivisa para homens e mulheres:

´´Dou um conselho como homem que, pela misericórdia do Senhor, é digno de confiança... 0 tempo se fez curto. Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam como se não a tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; aqueles que se regozijam, como se não se regozijassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não usassem plenamente. Pois passa a figura deste mundo. Eu quisera que estivésseis isentos de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido. Da mesma forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido´´ (1Cor 7,25/34).

Ora os protestantes nunca citam tal texto quando se referem ao celibato e à virgindade consagrada a Deus. É estranho, dado que eles querem em tudo seguir a Bíblia.

4. Esfacelamento

Jesus prometeu à sua Igreja que estaria com ela até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20); prometeu também aos Apóstolos o dom do Espírito Santo para que aprofundassem a mensagem do Evangelho (cf. Jo 14,26; 16,13s).

Não obstante, os protestantes se afastam da Igreja assim assistida por Cristo e pelo Espírito Santo para fundar novas ´´igrejas´´. São instituições meramente humanas, que se vão dividindo, subdividindo e esfacelando cada vez mais; empobrecem e pulverizam sempre mais a mensagem do Evangelho, reduzindo/a:

Ora a sistema de curas (curandeirismo), milagre serviço ao homem (Casa da Bênção, Igreja Socorrista, Ciência Cristã...);

Ora a um retorno ao Antigo Testamento, com empalidecimento do Novo; assim os ramos adventistas...;

Ora a um prelúdio de nova ´´revelação´´, que já não é cristã. Tal é o caso dos Mórmons; tal é o caso das Testemunhas de Jeová, que negam a Divindade de Cristo, a SS. Trindade e toda a concepção cristã de história.

5. Deterioração da Bíblia

0 fato de só quererem seguir a Bíblia (que na realidade é inseparável de Tradição oral, que a berçou e a acompanha), tem como consequência o subjetivismo dos intérpretes protestantes. Alguns entram pelos caminhos do racionalismo e vêm a ser os mais ousados dilapidadores ou roedores das Escrituras (tal é o caso de Bultmann, Marxsen, Harnack, Reimarus, Baur...). Outros preferem adotar cegamente o sentido literal, sem o discernimento dos expressionismos próprios dos antigos semitas, o que distorce, de outro modo, a genuína mensagem bíblica.

Isto acontece, porque faltam ao Protestantismo os critérios da Tradição (´´o que sempre, em toda a parte e por todos os fiéis foi professado´´), critérios estes que o magistério da Igreja, assistido pelo Espírito Santo, propõe aos fiéis e estudiosos, a fim de que não se desviem do reto entendimento do texto sagrado.

6. Mal/Entendidos

Quem lê um folheto protestante dirigido contra as práticas da Igreja Católica (veneração, não adoração das imagens, da Virgem Santíssima, celibato...), lamenta o baixo nível das argumentações: são imprecisas, vagas, ou mesmo tendenciosas; afirmam gratuitamente sem provar as suas acusações; não raro baseiam/se em premissas falsas, datas fictícias, anacronismos.

As dificuldades assim levantadas pelos protestantes dissipam/se desde que se estudem com mais precisão a Bíblia e as antigas tradições do Cristianismo. Vê/se então que as expressões da fé e do culto da Igreja Católica não são senão o desabrochamento homogêneo das virtualidades do Evangelho; sob a ação do Espírito Santo, o grão de mostarda trazido por Cristo à terra tornou/se grande árvore, sem perder a sua identidade (cf. Mt 13,31 s); vida é desdobramento de potencialidades homogêneo. Seria falso querer fazer disso um argumento contra a autenticidade do Catolicismo. Está claro que houve e pode haver aberrações; estas, porém, não são padrão para se julgar a índole própria do Catolicismo.

A dificuldade básica no diálogo entre católicos e protestantes está nos critérios da fé. Donde deve o cristão haurir as proposições da fé: da Bíblia só ou da Bíblia e da Tradição oral?

Se alguém aceita a Bíblia dentro da Tradição oral, que lhe é anterior, a berçou e a acompanha, não tem problema para aceitar tudo que a Palavra de Deus ensina na Igreja Católica, à qual Cristo prometeu sua assistência infalível.

Mas, se o cristão não aceita a Palavra de Deus na sua totalidade oral e escrita, ficando apenas com a escrita (Bíblia), já não tem critérios objetivos para interpretar a Bíblia; cada qual dá à Escritura o sentido que ele julga dever dar, e assim se vai diluindo e pervertendo cada vez mais a Mensagem Revelada. A letra como tal é morta; é a Palavra viva que dá o sentido adequado a um texto escrito.

7. Menosprezo da Igreja

Jesus fundou sua Igreja e a entregou a Pedro e seus sucessores. Sim, Ele disse ao Apóstolo:

´´Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus´´ (Mt 16,18s).

Notemos: Jesus se refere à sua Igreja (Ele só tem uma Igreja) e Ele a entregou a Pedro... A Pedro e a seus sucessores, pois Pedro é o fundamento visível (´´sobre essa pedra edificarei...´´); ora, se o edifício deve ser para sempre inabalável, o fundamento há de ser para sempre duradouro; esse fundamento sólido não desapareceu com a morte de Pedro, mas se prolonga nos sucessores de Pedro, os Papas.

Ora, Lutero e seus discípulos desprezaram a Igreja fundada por Jesus, e fundaram (como até hoje ainda fundam) suas ´´igrejas´´. Em consequência, cada ´´igreja´´ protestante é uma sociedade meramente humana, que já não tem a garantia da assistência infalívei de Jesus e do Espírito Santo, porque se separou do tronco original.

A experiência mostra como essas ´´igrejas´´ se contradizem e ramificam em virtude de discórdias e interpretações bíblicas pessoais dos seus fundadores; predomina aí o ´´eu acho´´ dos homens ou de cada ´´profeta´´ de denominação protestante.

Mas... as falhas humanas da Igreja não são empecilho para crer?

Em resposta devemos dizer que o mistério básico do Cristianismo é o da Encarnação; Deus assumiu a natureza humana, deixou/se desfigurar por açoites, escarros e crucificação, mas desta maneira quis salvar os homens. Este mistério se prolonga na Igreja, que São Paulo chama ´´o Corpo de Cristo´´ (Cl 1,24; 1Cor 12,27). A Igreja é humana; por isto traz as marcas da fragilidade humana de seus filhos, mas é também divina; é o Cristo prolongado; por isto os erros dos homens da Igreja não conseguem destrui/la; são, antes, o sinal de que é Deus quem vive na Igreja e a sustenta.

Numa palavra, o cristão há de dizer com São Paulo: ´´A Igreja é minha mãe´´ (cf. Gl 4,26). Ao que São Cipriano de Cartago (+258) fazia eco, dizendo: ´´Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe´´ (´´Sobre a Unidade de Igreja´´, cap. 4).

Conclusão

A grande razão pela qual o Protestantismo se torna inaceitável ao cristão que reflete, é o subjetivismo que o impregna visceralmente. A falta de referenciais objetivos e seguros, garantidos pelo próprio Espírito Santo (cf. Jo 14,26; 16,13s), é o principal ponto fraco ou o calcanhar de Aquiles do Protestantismo. Disto se segue a divisão do mesmo em centenas de denominações diversas, cada qual com suas doutrinas e práticas, às vezes contraditórias ou mesmo hostis entre si.

0 Protestantismo assim se afasta cada vez mais da Bíblia e das raízes do Cristianismo (paradoxo!), levado pelo fervor subjetivo dos seus ´´profetas´´, que apresentam um curandeirismo barato (por vezes, caro!) ou um profetismo fantasioso ou ainda um retorno ao Antigo Testamento com menosprezo do Novo.

Esta diluição do Protestantismo e a perda dos valores típicos do Cristianismo estão na lógica do principal fundador, Martinho Lutero, que apregoava o livre exame de Bíblia ou a leitura da Bíblia sob as luzes exclusivas da inspiração subjetiva de cada crente; cada qual tira das Escrituras ´´o que bem lhe parece ou lhe apraz´´!

Sobre a intercessão dos Santos


São Jerônimo (340/420), doutor da Igreja:

´´Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?´´ (Adv. Vigil. 6)

Santo Hilário de Poitiers (310/367), bispo e doutor da Igreja:

´´Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos´´.

São Cirilo de Jerusalém (315/386): bispo de Jerusalém e doutor da Igreja:

´´Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: Patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires; para que Deus, por sua intercessão e orações, se digne receber as nossas´´.

Concílio de Trento (1545/1563 / 25ª Sessão):

´´Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens. É bom e proveitoso invocá/los suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessões, para que vos obtenham benefícios de Deus, por NSJC, único Redentor e Salvador nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que já gozam da eterna felicidade no céu. Os que afirmam que eles não oram pelos homens, os que declaram que lhes pedir por cada um de nós em particular é idolatria, repugna à palavra de Deus e se opõe à honra de Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2,5)´´.

SOBRE A CONFISSÃO

Santo Agostinho (354/430), bispo de Hipona, doutor da Igreja:

´´Se na Igreja não existisse a remissão dos pecados, não existiria nenhuma esperança, nenhuma perspectiva de uma vida eterna e de uma libertação eterna. Rendamos graças a Deus que deu à Sua Igreja um tal dom´´.

´´Fazei penitência, como é costume na Igreja, se quereis que ela ore por vós. Ninguém diga / eu faço penitência secretamente diante de Deus. Ele sabe/o e perdoa/me, porque faço penitência em meu coração... Poderemos nós anular o Evangelho e a palavra de Cristo?´´

São Leão Magno (400/461), Papa e doutor da Igreja:

´´Deus em sua infinita misericórdia, preparou dois remédios para os pecados dos homens: o batismo e a penitência. Pelo batismo nascemos para a vida da graça; pela penitência recuperamo/lo, se tivermos a infelicidade de perdê/la. Todo cristão, portanto, deve examinar a sua consciência, não adiando dia a dia a sua conversão. Ninguém espere satisfazer a justiça de Deus na hora da morte. É um perigo para os fracos e ignorantes adiar a sua conversão para os últimos dias de sua vida.´´

São Gregório Magno (540/604), Papa e doutor da Igreja:

´´Os Apóstolos receberam, pois, o Espírito Santo para desligar os pecadores da cadeia dos seus pecados. Deus fê/los participantes do seu direito de julgar; e eles julgam em Seu Nome e em Seu lugar. Ora, como os bispos são os sucessores dos Apóstolos têm o mesmo direito´´.

´´O pecador, ao confessar sincera e contritamente os seus pecados, é como Lázaro: já vive, mas está ainda ligado com as ataduras de seus pecados. Precisa de que o Sacerdote lhas corte; e corte/lhas absolvendo/o´´.

Imagens e ídolos


Desde os primeiros séculos os cristãos pintaram e esculpiram imagens de Jesus, de Nossa Senhora, dos Santos e dos Anjos, não para adorá/las, mas para venerá/las.

As catacumbas e as igrejas de Roma, dos primeiros séculos, são testemunhas disso. Só para citar um exemplo, podemos mencionar aqui o fragmento de um afresco da catacumba de Priscila, em Roma, do início do século III. É a mais antiga imagem da Santissima Virgem, uma das mais antigas da arte cristã, sobre o mistério da Encarnação do Verbo. Mostra a imagem de um homem que aponta para uma estrela situada acima da Virgem Maria com o Menino nos braços. O Catecismo da Igreja traz uma cópia dessa imagem (Ed. de bolso, Ed. Loyola, pag.19).

Este exemplo mostra que desde os primeiros séculos os cristãos já tinham o salutar costume de representar os mistérios da fé por imagens, em forma de ícones ou estátuas. É o caso de se perguntar, então: Será que foram eles ´´idólatras´´ por cultuarem essas imagens? É claro que não? Eles foram santos, mártires, derramaram, muitos deles, o sangue em testemunho da fé. Seria blasfêmia acusar os primeiros mártires da fé de idólatras.

No século VIII, sob influência do judaísmo e do islamismo, surgiu um movimento herético que se pôs a combater o uso das imagens. Eram os iconoclastas.

O grande e principal defensor do uso das imagens na época, foi o santo e doutor da Igreja S. João Damasceno (de Damasco), falecido em 749, o qual foi muito perseguido por se manter fiel e defensor dessa santa Tradição cristã.

A fim de dirimir as dúvidas sobre a questão, o Papa Adriano I (772/795) convocou o II Concílio Ecumênico de Nicéia, que se realizou de 24/09 a 23/10/787. Assim se expressou o Concílio, resolvendo para sempre a questão:

´´Na trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres, e da Tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos´´ (Catecismo da Igreja Católica, nº 1161).

Essas palavras, por serem de um Concílio da Igreja, são ensinamentos oficiais e infalíveis, e não podemos colocá/los em dúvida. O grande S. João Damasceno dizia :

´´A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus ´´ (nº 1162).

O nosso Catecismo explica que:

´´A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova ´´economia´´ das imagens´´( 1159).

S. Tomás de Aquino (1225/1274) também defendia o uso das imagens, afirmando:

´´O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem´´( 2131).

Muitos querem incriminar a Igreja Católica, afirmando que ela desrespeita a ordem que Deus deu a Moisés : ´´não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo...´´ (Dt 4,15/16).

Os cristãos, desde os primeiros séculos, entenderam, sob a luz do Espírito Santo, que Deus nunca proibiu fazer imagens, e sim ´´ídolos´´, deuses, para adorar. O povo de Deus vivia na terra de Canaã, cercado de povos pagãos que adoravam ídolos em forma de imagens (Baals, Moloc, etc). Era isso que Deus proibia terminantemente. A prova de que Deus nunca proíbiu imagens, é que Ele próprio ordenou a Moisés que fabricasse imagens de dois Querubins e que também pintasse as suas imagens nas cortinas do Tabernáculo. Os querubins foram colocados sobre a Arca da Aliança.

´´Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro... Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto e protegerão com elas a tampa ... ´´ (Ex. 25,18s, Ex 37,7; 1 Rs. 6,23; 2 Cr. 3,10).

´´Farás o tabernáculo com dez cortinas de linho fino retorcido, de púrpura violeta sobre as quais alguns querubins serão artísticamente bordados´´ (Ex. 26,1.31).

Que fique claro, de uma vez por todas, Deus nunca proibiu imagens, e sim, ´´fabricar imagens de deuses falsos´´ . O mesmo Deus mandou que, no deserto, Moisés fizesse uma imagem de uma serpente de bronze (Nm 21, 8/9), que prefigurava Jesus pregado na cruz (Jo 3,14). Também o rei Salomão, quando construiu o templo, mandou fazer querubins e outras imagens (I Rs 7,29). O culto que a Igreja Católica presta a Deus, e só a Deus, é um culto chamado ´´latria´´, isto é, de adoração. Aos anjos e santos é um culto chamado ´´dulia´´, de veneração. Maria, como Mãe de Deus recebe o culto de ´´hiper/dulia´´, super/veneração digamos, mas que está muito longe da adoração devida só a Deus.

São Pedro, ao terminar a segunda Carta falava do perigo daqueles que interpretavam erroneamente as Escrituras:

´´Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras´´ (2 Pe 3,16).

Infelizmente isto continua a acontecer com aqueles que querem dar uma interpretação individual à Palavra de Deus, sem autorização oficial da Igreja, levando multidões ao erro. Só a Igreja é a autêntica intérprete da Bíblia (cf.Dei Verbum,10), pois foi ela que, inspirada pelo Espírito do Senhor (Jo 16,12), a compôs.

As imagens, sempre foram, em todos os tempos, um testemunho da fé. Para muitos que não sabiam ler, as belas imagens e esculturas foram como que o Evangelho pintado nas paredes ou reproduzido nas esculturas. E assim há de continuar a ser.

É claro que o culto por excelência é prestado a Deus, mas isto não justifica que as imagens sejam retiradas das nossas igrejas. Ao contrário, elas nos lembram que aqueles que elas representam, chegaram à santidade por graça e obra do próprio Deus. Assim, as imagens, dão, antes de tudo, glória a Deus.

A Doutrina do Purgatório

Desde os primórdios a Igreja, assistida pelo Espírito Santo (cf. Mt 28,20; Jo 14,15.25; 16,12´13), acredita na purificação das almas após a morte, e chama este estado, não lugar, de Purgatório.

Ao nos ensinar sobre esta matéria, diz o nosso Catecismo:

´´Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas imperfeitamente purificados, estão certos da sua salvação eterna, todavia sofrem uma purificação após a morte, afim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu´´ (CIC, §1030).

Logo, as almas do Purgatório ´´estão certas da sua salvação eterna´´, e isto lhes dá grande paz e alegria.

Falando sobre isso, disse o Papa João Paulo II:

´´Mesmo que a alma tenha de sujeitar´se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, porque sabe que pertence para sempre ao seu Deus.´´(Alocução de 03 de julho de 1991; LR n. 27 de 07/7/91)

O Catecismo da Igreja ensina que:

´´A Igreja chama de purgatório esta purificação final dos eleitos, purificação esta que é totalmente diversa da punição dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório principalmente nos Concílios de Florença (1438´1445) e de Trento (1545´1563)´´ (§ 1031).

´´Este ensinamento baseia´se também sobre a prática da oração pelos defundos de que já fala a Escritura Sagrada:
#8216;Eis porque Judas Macabeus mandou oferecer este sacrifício expiatório em prol dos mortos, a fim de que fossem purificados de seu pecado
#8217; (2 Mac 12,46). Desde os primeiros tempos a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em favor dos mesmos, particularmente o sacrifício eucarístico, a fim de que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos´´(§1032).

Devemos notar que o ensinamento sobre o Purgatório tem raízes já na crença dos próprios judeus, cerca de 200 anos antes de Cristo, quando ocorreu o episódio de Judas Macabeus. Narra´se aí que alguns soldados judeus foram encontrados mortos num campo de batalha, tendo debaixo de suas roupas alguns objetos consagrados aos ídolos, o que era proibido pela Lei de Moisés. Então Judas Macabeus mandou fazer uma coleta para que fosse oferecido em Jerusalém um sacrifício pelos pecados desses soldados. O autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, louva a ação de Judas:

´´Se ele não esperasse que os mortos que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos. Mas, se considerasse que uma belíssima recompensa está reservada para os que adormeceram piedosamente, então era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis porque ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, afim de que fossem absolvidos do seu pecado´´. (2 Mac 12,44s)

Neste caso, vemos pessoas que morreram na amizade de Deus, mas com uma incoerência, que não foi a negação da fé, já que estavam combatendo no exército do povo de Deus contra os inimigos da fé.

Todo homem foi criado para participar da felicidade plena de Deus (cf. CIC, §1), e gozar de sua visão face´a´face. Mas, como Deus é ´´Três vezes Santo´´, como disse o Papa Paulo VI, e como viu o profeta Isaías (Is 6,8), não pode entrar em comunhão perfeita com Ele quem ainda tem resquícios de pecado na alma. A Carta aos Hebreus diz que: ´´sem a santidade ninguém pode ver a Deus´´ (Hb 12, 14). Então, a misericórdia de Deus dá´nos a oportunidade de purificação mesmo após a morte. Entenda, então, que o Purgatório, longe de ser castigo de Deus, é graça da sua misericórdia paterna.

O ser humano carrega consigo uma certa desordem interior, que deveria extirpar nesta vida; mas quando não consegue, isto leva´o a cair novamente nas mesmas faltas. Ao confessar recebemos o perdão dos pecados; mas, infelizmente, para a maioria, a contrição ainda encontra resistência em seu íntimo, de modo que a desordem, a verdadeira raíz do pecado, não é totalmente extirpada. No purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, e a alma chega à santidade perfeita, podendo entrar na comunhão plena com Deus, pois, com amor intenso a Ele, rejeita todo pecado.

Com base nos ensinamentos de São Paulo, a Igreja entendeu também a realidade do Purgatório. Em 1Cor 3,10, ele fala de pessoas que construíram sobre o fundamento que é Jesus Cristo, utilizando uns, material precioso, resistente ao fogo (ouro, prata, pedras preciosas) e, outros, materiais que não resistem ao fogo (palha, madeira). São todos fiéis a Cristo, mas uns com muito zelo e fervor, e outros com tibieza e relutância. E Paulo apresenta o juízo de Deus sob a imagem do fogo a provar as obras de cada um. Se a obra resistir, o seu autor ´´receberá uma recompensa´´; mas, se não resistir, o seu autor ´´sofrerá detrimento´´, isto é, uma pena; que não será a condenação; pois o texto diz explicitamente que o trabalhador ´´se salvará, mas como que através do fogo´´, isto é, com sofrimentos.

O fogo neste texto tem sentido metafórico e representa o juízo de Deus (cf. Sl 78, 5; 88, 47; 96,3). O purgatório não é de fogo terreno, já que a alma, sendo espiritual, não pode ser atingida por esse fogo. No purgatório a alma vê com toda clareza a sua vida tíbia na terra, o seu amor insuficiente a Deus, e rejeita agora toda a incoerência a esse amor, vencendo assim as paixões que neste mundo se opuseram à vontade santa de Deus. Neste estado, a alma se arrepende até o extremo de suas negligências durante esta vida; e o amor a Deus extingue nela os afetos desregrados, de modo que ela se purifica. Desta forma, a alma sofre por ter sido negligente, e por atrasar assim, por culpa própria, o seu encontro definitivo com Deus. É um sofrimento nobre e espontâneo, inspirado pelo amor de Deus e horror ao pecado.

Pensamentos Consoladores sobre o Purgatório

O grande doutor da Igreja, São Francisco de Sales (1567´1655), tem um ensinamento maravilhoso sobre o purgatório. Ele ensinava, já na idade média, que ´´é preciso tirar mais consolação do que temor do pensamento do Purgatório´´. Eis o que ele nos diz:

1 ´ As almas alí vivem uma contínua união com Deus.

2 ´ Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar´se no inferno a apresentar´se manchadas diante de Deus.

3 ´Purificam´se voluntariamente, amorosamente, porque assim o quer Deus.

4 ´ Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.

5 ´ São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer de impaciência, nem cometer qualquer imperfeição.

6 ´ Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.

7 ´ São consoladas pelos anjos.

8 ´ Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.

9 ´ As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.

10 ´ Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama´lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.

11 ´ O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor.

( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)

Qual o sentido da celebração das Cinzas?


A Quarta-feira de Cinzas foi instituída há muito tempo na Igreja; marca o início da Quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa. Para os antigo judeus sentar sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e voltar para Deus. As Cinzas bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer; que somos pó e que ao pó da terra voltaremos (Gn 3, 19) para que nosso corpo seja refeito por Deus de maneira gloriosa para não mais perecer.

A intenção deste sacramental é levar-nos ao arrependimento dos pecados, marcando o início da Quaresma; e fazer-nos lembrar que não podemos nos apegar a esta vida achando que a felicidade plena possa ser construída aqui. É uma ilusão perigosa. A morada definitiva é o céu.

A maioria das pessoas, mesmo os cristãos, passam a vida lutando para "construir o céu na terra". É um grande engano. Jamais construiremos o céu na terra; jamais a felicidade será perfeita no vale em que o pecado transformou num vale de lágrimas. Devemos sim lutar para deixar a vida na terra cada vez melhor, mas sem a ilusão de que ficaremos sempre aqui.

Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida. Qual seria o desígnio de Deus nisso? A cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, tomar banho, alimentar-nos, etc.. Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do cora­ção e do respirar contínuo dos pulmões. Todo o organismo repete sem cessar suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório... nada eterno. Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha, Todo dia que nasce logo se esvai... e assim tudo passa, tudo é transi­tório, Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro? Com­pra-se uma camisa nova, e logo já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos.., e assim por diante.

A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A marca da vida é a renovação. Tudo nasce, cresce, vive, amadurece e morre. A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que Deus nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida duradoura, eterna, perene.

Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, sinto Deus nos dizer: "Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia."

E isto mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence.

Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: "Descansa, come, bebe e regala-te" (Lc 12,19b); ao que Deus lhe disse: "Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma" (Lc 12,20).

A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e cons­tante que Deus encontrou para nos dizer a cada momento que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos e, principalmente, para os outros. Os talentos multiplicados no dia-a-dia, a perfei­ção da alma buscada na longa caminhada de uma vida de me­ditação, de oração, de piedade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando "Deus será tudo em todos" (cf. 1 Cor 15,28).

A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida, se a vivermos para os outros e para Deus. São João Bosco dizia que "Deus nos fez para os outros". Só o amor; a caridade, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a verdadeira di­mensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.

Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensarí­amos em Deus e no céu. Acontece que Ele tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar:

"Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Cor 2,9).

A corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta - uma vida junto dEle. E, para tal, Ele não quer que nos acostu­memos com esta, mas que busquemos a outra com alegria, onde não have­rá mais sol porque o próprio Deus será a luz, e não haverá mais choro nem lágrimas.

Aqueles que não crêem na eternidade jamais se confor­marão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre so­nharão com a construção do céu nesta terra. Para os que crêem, a efemeridade tem sentido: a vida “não será tirada, mas transformada”; o "corpo corruptível se revestirá da incorrupti­bilidade" (cf 1Cor 15,54) em Jesus Cristo.

Santa Teresinha não se cansava de exclamar:

“Tenho sede do Céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Jesus sem restrições. Mas, para lá chegar é preciso sofrer e chorar; pois bem! Quero sofrer tudo o que aprouver a meu Bem Amado, quero deixar que Ele faça de sua bolinha o que ele quiser”.

São Paulo lembrou aos filipenses: “Nós somos cidadãos do Céu!. É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura” (Fl 3, 20-21).

A esperança do Céu e da sua glória fazia o Apóstolo dizer:

“Os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

E essa esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as tribulações: “Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rom 8,18).

Este é o sentido das Cinzas.

Prof. Felipe Aquino

Deus está conosco em todos os momentos

Normalmente caminhamos muito bem até surgir a doença. Nessa hora as nossas emoções falam mais alto, surgem todos os tipos de preocupações, a insegurança toma conta de nós, a ansiedade nos envolve, enfim, tudo se transforma... Essa é a hora da fé e da confiança em Deus, que sempre nos acompanha e nunca no abandona. É hora de passar pelo "vale escuro", mas sabendo que há um Pastor que nos ama e cuida de nós.

Confie em Deus naquilo que Ele tem para você. Mesmo que você não entenda o porquê das dificuldades pelas quais está passando, aceite-as, pois o Senhor está com você em todos esses momentos.

“Sempre aceitamos a felicidade como um dom de Deus. E a desgraça? Por que não a aceitaríamos?” (Jó 2,10).

Precisamos ser firmes em Deus; ser homens e mulheres de fibra, combatentes que enfrentam todas as dificuldades que possam surgir. O sofrimento nos dá têmpera de guerreiros.